Quando a ciência cumpre seu último e definitivo papel
Para os diversos pontos que se olhasse naquela quadra poliesportiva da Barra de Santo Antônio – uma pequena cidade do litoral alagoano -, era possível ler a mensagem “Cientistas a serviço da sociedade”. Apesar de (quase) óbvio, esse aspecto do papel social da ciência nem sempre é visto por meio da conversa direta entre cientistas e moradores da região em que desenvolvem suas pesquisas. Porém, essa é uma ação cada vez mais necessária e urgente, que alguns grupos de pesquisadores começam a realizar.
Naquele sábado (23/10), quem estava a serviço da sociedade era a equipe de um Projeto Ecológico de longa Duração (PELD), dedicado às pesquisas nas Costas dos Corais de Alagoas (CCAL), ou seja o PELD CCAL. A sigla PELD, além de designar esses projetos financiados majoritariamente pelo CNPq, também é o nome do próprio programa mantido por este órgão de fomento, para conhecer e enfrentar os problemas ecológicos nos ecossistemas brasileiros.
O evento em questão era o primeiro dos encontros que o PELD CCAL pretende oferecer como “uma devolutiva às comunidades”, que, em outras palavras, significa que pesquisadores vão conversar com moradores e gestores locais sobre o que já pode ser respondido a partir das pesquisas realizadas naquele ecossistema com a contribuição de pessoas da comunidade e dos seus saberes tradicionais.
Nele, toda comunidade era muito bem-vinda, mas um público teve atenção especial: as crianças. Aliás, nunca é demais lembrar que se conseguirmos falar da ciência que produzimos com esse público, é possível que consigamos falar com todos os outros. E o PELD CCAL demonstrou uma excelente capacidade de fazê-lo. Durante todo dia, a criançada circulou pelo lugar, onde diversos expositores ofereciam atividades lúdicas, com grande poder informativo, quase sempre permeadas pelas artes, para explicar a migração das aves, as diferentes fases dos peixes e seus períodos de pesca, as consequências das manchas deixadas pelo derramamento de óleo naquele litoral, entre outros.
No meio de tantas crianças, estava João, de 11 anos, que já tinha circulado por quase todas as atividades. Ele agora pintava os divertidos personagens de um produto de comunicação do PELD CCAL intitulado “Mar à Vista”. O semblante denunciava que o garoto, condição natural de toda criança, estava curioso para explorar cada oportunidade oferecida. Chegada a sua vez de observar o microscópio, cuja lâmina apresentava o sangue da “donzelinha” – um peixe muito comum na região –, os pesquisadores lhe explicavam que pela imagem observada era possível detectar diferentes doenças naquele pescado. Ele se maravilhou com a capacidade daquele instrumento e foi além. Retornou com um pequeno inseto capturado ali por perto e perguntou: eu posso observar como ele é por dentro?
Talvez João ainda não saiba, mas ele estava em um processo de formulação de uma questão científica, que certamente já está respondida, mas cujo movimento investigativo que ele começou a descobrir naquele dia, gerou a Ciência que temos hoje e que permite dar respostas mais seguras sobre as coisas do mundo e, exatamente por essa capacidade, deve estar em diálogo constante com a sociedade que lhe torna possível. Se ele quiser, e lhe for dada oportunidade, é possível que se torne um cientista com muita capacidade de dialogar com a sociedade a qual pertence.
Por mais cientistas a serviço da sociedade !
Por Alessandra Gomes Brandão – Peldcom
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