Florestas sobre lençóis freáticos rasos na Amazônia podem ter resposta mais eficiente às mudanças climáticas

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31 de janeiro de 2022

Projeto do PELD IAFA contribui para pesquisa inédita

Árvores de florestas em lençol freático superficial resistem a secas moderadas (Foto: Juliana Schietti)

Pesquisas apontam que florestas localizadas sobre lençol freático raso possuem mais resistência às secas moderadas e podem ter uma resposta mais eficiente frente às mudanças climáticas, do que as florestas em locais onde o lençol freático é mais profundo. A captura de carbono poderá ser intensificada. Este é um fator importante num cenário de aquecimento global, quando maiores períodos de seca ocorrerem, conforme previsto por cientistas. Os pesquisadores afirmam que as florestas em lençóis freáticos rasos – aproximadamente 50% da Bacia Amazônica – são pouco estudadas. A ausência dessas avaliações influencia seriamente nas projeções do futuro dessas florestas.

As florestas com a reserva de água mais próxima às raízes, tem o potencial de atuar como “refúgios hidrológicos” e podem ser uma das principais responsáveis em manter a regulação de CO2. Como isso acontece?

Durante os anos sem seca, há excesso de água no solo destas florestas; com isso, os níveis de oxigênio baixam, os vegetais são menos produtivos e alguns acabam morrendo.

Entretanto, durante as secas moderadas, essas florestas atingem um “ponto ideal”, sem falta ou excesso de água. A seca encurta a duração do período de encharcamento do solo, aumenta a duração do período de crescimento das plantas e evita que elas morram pela falta de oxigênio. As árvores crescem mais e a floresta preserva sua biodiversidade.

Essa observação feita pelos pesquisadores leva à hipótese de que locais com diferentes condições do lençol freático têm respostas altamente contrastantes às secas e, consequentemente, às condições frente às mudanças climáticas.

Essas hipóteses foram levantadas no artigo “The other side of tropical forest drought: do shallow water table regions of Amazonia act as large-scale hydrological refugia from drought?”, publicado com a marca Tansley review na revista científica New Phytologist. Os estudos foram feitos a partir da revisão de trabalhos das pesquisadoras Flávia Costa (INPA) e Juliana Schietti (UFAM) e os pesquisadores Scott Stark e Marielle Smith da Universidade Estadual de Michigan, com a contribuição de dados dos Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD IAFA/CNPq)) e do Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio/INPA). O artigo é o produto de um projeto de colaboração entre a Universidade Estadual de Michigan e o INPA, financiado pela Fundação Nacional da Ciência (EUA).

Uma das autoras do artigo, Dra. Flávia Costa destaca que a perspectiva apresentada  pode promover um novo direcionamento nas pesquisas em mudanças climáticas e políticas públicas para conservação da biodiversidade e serviços ambientais. Ela faz um alerta para a conservação das florestas de lençóis freáticos rasos: “Não adianta conservar apenas o que tem alto valor hoje, é necessário antecipar e conservar o que vai ser crítico amanhã. Bacias de drenagem completas precisam ser conservadas para garantir o abastecimento da água subterrânea e assim o suprimento de água para as plantas que regulam o clima”. 

O pesquisador da Universidade Estadual de Michigan, Scott Stark explica que o armazenamento de CO2 pelas florestas tropicais globais depende de boas condições de crescimento. Contudo, grandes secas estão se tornando mais comuns nas florestas tropicais por causa das mudanças climáticas e esse serviço ecossistêmico está em ameaça: “Nosso estudo sugere que a situação poderia ser muito pior se não fossem as florestas com lençol freático raso: a seca leve nessas regiões pode aumentar a produção vegetal e assim capturar e armazenar maior quantidade de CO2. O impacto geral do carbono na Amazônia muda para menos severo”.

Ainda assim, muito é desconhecido. Stark complementa afirmando que “o crescimento em florestas de lençóis freáticos rasos pode ser resiliente ou até aumentado por secas moderadas, mas as árvores que vivem lá são menos propensas a ter as características necessárias para sobreviver a secas fortes. Isso pode causar grande mortalidade no futuro, se as mudanças climáticas e o desmatamento regional tornarem as secas severas. Por essas razões, entender a contribuição da floresta de lençóis freáticos rasos para o carbono florestal na Amazônia é uma prioridade crítica de pesquisa.”

A professora Juliana Schietti (UFAM), ressalta, ainda, que “a conservação da Amazônia precisa ser pensada como um bloco único e continental que conecta o oceano Atlântico aos Andes e que é responsável pela produção de chuvas que abastecerão regiões mais ao sul da América do Sul. Sem o grande bloco de florestas com lençol freático raso e profundo, o fluxo de chuvas que se inicia no Atlântico será interrompido.”

Os conceitos desenvolvidos nesta revisão derivam de um extenso corpo de trabalho desenvolvido em especial na última década pelas pesquisadoras Flávia Costa (INPA) e Juliana Schietti (UFAM), bem como com a contribuição de muitos estudantes e colaboradores do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) e do Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio) do INPA. O papel imprescindível das parcelas de monitoramento de longo prazo é imprescindível, sem as quais não é possível compreender o funcionamento da floresta frente às mudanças climáticas.

Vídeo-sumários do artigo estão disponíveis em:

Português: https://youtu.be/CKCt2dz2plM

Español: https://youtu.be/sjV4hmJ36fkEnglish: https://youtu.be/6JQOjMxtj6g

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Texto: Thalita Bandeira (Peld Manaus), Pedro Augusto Rodrigues e Márcia Dementshuk
Edição: Márcia Dementshuk
Imagem: Juliana Schietti
Fonte: Release de Thalita Bandeira – PELD Manaus – Floresta Amazônica

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