Cascata de efeitos sobre as florestas amazônicas potencializam as mudanças climáticas

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14 de março de 2022

Pesquisadores demonstram consequências ecológicas dos aumentos extremos climáticos na biodiversidade (Foto: Adam Ronan)

Nos últimos anos, diversos estudos apontam para a redução de chuvas e aumento da temperatura na Amazônia. Mas você já ouviu falar nas consequências do efeito de diversas mudanças ao mesmo tempo?  Quem pesquisa essa temática é a equipe da Rede Amazônia Sustentável – RAS – um Projeto Ecológico de Longa Duração (PELD), voltado para o monitoramento da reação das florestas amazônicas a esses fatores. 

O foco desse sítio de pesquisa, a partir de uma rede com a participação de cerca de 50 pesquisadores brasileiros e estrangeiros, com financiamento do CNPq, é demonstrar as consequências ecológicas que os aumentos extremos de chuva, seca e incêndios florestais causam na biodiversidade vegetal e da fauna, bem como nos processos ecológicos decorrentes disso. 

A coordenadora do PELD/RAS, doutora Joice Ferreira, nos explica como se dá essa cascata de efeitos sobre a floresta. Segundo a pesquisadora, o desmatamento e a degradação florestal, acumulados ao longo dos anos, influenciam uma maior frequência e intensidade de secas extremas. Esse estresse hídrico, ou seja, a redução das chuvas, aumenta os incêndios florestais na região. E o ciclo não para por ai. Os incêndios decorrentes dessas secas promovem uma grande mortalidade das árvores que, por sua vez, liberam uma imensa quantidade de carbono para a atmosfera, agravando ainda mais as mudanças climáticas.

Conhecer para agir 

Diversos artigos publicados pelo grupo da RAS (links abaixo) apresentam resultados importantes para o entendimento e enfrentamento dessa questão. Para os pesquisadores da rede, as secas mediadas pelo El-Niño e os incêndios associados ao fenômeno em áreas degradadas levaram a um aumento da vulnerabilidade das árvores com consequências para o agravamento das mudanças climáticas globais.  Segundo a pesquisa, a seca intensa e os incêndios florestais em 2015 e 2016 mataram em torno de 2,5 bilhões de árvores e cipós na região estudada, o que liberou cerca de 495 milhões de toneladas de CO².

Outro trabalho da equipe, o, liderado pelo doutor Filipe França, demostrou que a diversidade de besouros escarabeíneos (conhecidos como rola-bostas) e as funções ecológicas associadas aos mesmos são sensíveis aos efeitos de secas severas. Este resultado permitiu concluir que a contribuição da fauna para o funcionamento das florestas depende ainda mais da biodiversidade após eventos climáticos extremos. 

Como consequência dos fatores combinados, segundo outro trabalho do grupo, é que a recuperação do carbono e da diversidade de árvores em florestas secundárias de paisagens altamente degradadas, como na região Bragantina no nordeste paraense, é extremamente lenta e sensível aos efeitos das secas severas. 

Estudos integrados da rede ajudam a orientar estratégias de mitigação das mudanças climáticas. Outro artigo do grupo mostrou que os esquemas de compensação por carbono, incentivados pela crise climática, podem deixar a biodiversidade desprotegida nas florestas mais ricas em espécies. Esse desfecho pode ocorrer, segundo os pesquisadores, porque a biodiversidade foi associada positivamente ao carbono, somente em florestas altamente perturbadas, mas não em florestas conservadas. 

Um ponto muito preocupante nessa questão diz respeito às consequências sociais, uma vez que a agricultura e atividades econômicas também são afetadas. Ferreira ressalta que o aumento na frequência e intensidade dos incêndios florestais tem sido uma consequência importante na região amazônica, que por sua vez, gera impactos na saúde da população pela poluição atmosférica. “A segurança alimentar das populações locais também fica comprometida, com perda de muitos recursos florestais que utilizam para a sua sobrevivência”, enfatiza a pesquisadora, ressaltando, ainda que há outras pesquisas mostrando impactos na saúde, com a propagação, inclusive,  de doenças infecciosas. 

Floresta de extração queimada na Flona Tapajós (AM) (Foto Marizilda Cruppe/Divulgação)

Vias de enfrentamento

Mas como podemos enfrentar um problema de tamanha magnitude? A equipe do RAS nos diz que as mudanças devem ocorrer em múltiplas vias, mas destaca duas que consideram principais: acabar com os desmatamentos e a degradação de florestas (incêndios, exploração insustentável de madeira); realizar uma transição para sistemas agrícolas mais sustentáveis, menos dependentes do fogo e promover uma ampla restauração dos ecossistemas terrestres e aquáticos.

 Em outro artigo científico do grupo, os pesquisadores apresentam um conjunto de seis recomendações para a redução de incêndios florestais e mudanças rumo a maior sustentabilidade, que incluem da adaptação às mudanças culturais em curso até a criação de pontes entre a pesquisa científica e a inovação.

Para conhecer mais a respeito das pesquisas e recomendações da equipe do sítio RAS, indicamos os artigos abaixo:

Ação Sensibilização sobre as mudanças climáticas
Texto: Alessandra Gomes Brandão (UEPB)
Fotos: Acervo PELD RAS/AM
Com informações de: Joice Ferreira (PELD RAS)

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