Ciclo hidrológico da maior hidrobacia do mundo se encontra em processo de transformação

Notícias | 0 Comentários

Peldcom

Peldcom

16 de março de 2022

Bairros em zonas ripárias de Manacapuru (AM) afetadas durante a cheia de 2021 (Foto: Jochen Schöngart Acervo PELD MAUA)

Os estudos realizados no âmbito do projeto de Pesquisa de Longa Duração Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas, PELD-MAUA/AM, indicam que o aumento do nível da água registrado na Amazônia Central é sem precedentes, em comparação com os últimos mil anos. Isso ocorre porque o nível ciclo hidrológico se intensificou nas últimas três décadas. Os pesquisadores estudam os impactos dessas alterações na biodiversidade de plantas, no funcionamento do ecossistema e nas populações tradicionais que habitam as áreas alagáveis.

Os estudos que já foram publicados em revistas científicas internacionais, como a Science, mostram que pela série temporal de medidas diárias do nível da água registrada no Porto de Manaus (Amazônia Central) com 120 anos de extensão, as cheias severas ocorreram nas primeiras sete décadas do século passado a cada 15 a 20 anos.

Esse tempo de retorno diminuiu drasticamente nas últimas décadas. Nos últimos dez anos (de 2012 a 2021) ocorreram sete cheias severas, entre elas as duas maiores cheias já registradas, em 2021 e 2012. A intensificação do ciclo hidrológico também se reflete num aumento da amplitude de 1,5 metros comparando as últimas três décadas com os primeiros 90 anos do registro.

Durante os últimos 120 anos o nível médio da água no Porto de Manaus aumentou mais de 1 metro. A duração da situação de emergência no século 21 durante as primeiras duas décadas (2001-2021) já é 20% maior em comparação com a duração total da situação de emergência do século passado.

Quais as causas? Segundo destaca o coordenador do Sítio PELD Mauá, Dr. Jochen Schöngart, citando os artigos Barichivich et al. 2018, Resende et a. 2020, Schöngart & Junk 2020, Espinoza et al. 2022), “vários mecanismos estão por trás s variações naturais de grandes sistemas do clima, mas também das mudanças climáticas globais causadas pelo homem.

Uma das perguntas centrais do PELD-MAUA que estuda os igapós é como as mudanças do ciclo hidrológico afetam a biodiversidade de plantas, o funcionamento do ecossistema e as populações tradicionais que habitam as áreas alagáveis?

População sofrerá decorrências de cheias intensas

A intensificação do ciclo hidrológico afeta diretamente os ecossistemas de áreas alagáveis. Resulta na mortalidade massiva de árvores nos terrenos mais baixos, afetando o fornecimento de serviços ecossistêmicos e as cadeias tróficas (relativo à cadeia alimentar). Ao final, atinge o ser humano que habita essas áreas.

As áreas alagáveis na Amazônia são as regiões rurais com maior densidade populacional dessa região, desde os períodos pré-colombianos até os períodos atuais. As atividades econômicas como a pesca, a agricultura, a pecuária e o manejo florestal das populações tradicionais são realizadas conforme a oscilação das águas e tais alterações afetam essas atividades.

Gado é colocado numa maromba (curral flutuante) durante a cheia em 2021 (Foto: Jochen Schöngart)

Jochen Schöngart elenca uma série de impactos diretos às pessoas:

“Em anos de grande cheias as águas invadem as áreas de agricultura antes da colheita e destroem as plantações. O gado precisa ser removido das áreas alagáveis para a terra firme ou colocado em marombas (currais flutuantes).”

“Nas zonas urbanas, como em Manaus e outros municípios da região, o aumento da magnitude e frequência das cheias resultam nas perdas de moradias e bens das populações que habitam as zonas ripárias. Devido à falta de saneamento básico as populações nessas áreas críticas ficam em contato por mais tempo com águas poluídas dos igarapés que ficam represados pelo aumento do nível da água do rio.”

“Serviços básicos públicos (saúde, educação) e o comércio ficam fortemente afetados com inundação em hospitais, escolas e pontos de comércio.”

No âmbito do PELD MAUA, algumas soluções vêm sendo desenvolvidas, a fim de melhorar a convivência da população com a chegada das cheias e aumento da magnitude:

– Desenvolvimento de novos modelos para a previsão sazonal das cheias na Amazônia Central em cooperação com outras instituições (CPRM, CEMADEN, INPE) no Brasil e Reino Unido, bem como saneamento básico e o tratamento de esgoto e desenvolvimento de moradias adaptadas nas zonas críticas.

– No eixo rural, o ajuste dos manejos tradicionais de recursos naturais nas zonas alagáveis, frente à intensificação do ciclo hidrológico, principalmente no que tange a agricultura e a pecuária, é ponto relevante a ser solucionado.

Fases de cheias e de secas marcam a dinâmica das águas na Bacia Amazônica

Pontos de comércio em Manacapuru-AM afetados durante a cheia de 2021 (Foto: Jochen Schöngart)

Na Bacia Amazônica circulam cerca 18% de toda a água doce do planeta drenada para os oceanos. O ciclo hidrológico na maior hidrobacia do mundo é refletido pelo pulso de inundação dos grandes rios que resulta da sazonalidade das chuvas nas suas enormes cabeceiras. Esse pulso de inundação é caracterizado por uma fase de cheia e por uma fase de seca durante o ano com uma grande amplitude de aproximadamente 10 metros na Amazônia Central (diferença entre os níveis mínimos e máximos) que inunda anualmente vastas áreas – as áreas alagáveis de igapó que são compostas por diversas tipologias de florestas.

Para saber mais, acesse os artigos científicos produzidos pelos pesquisadores do PELD MAUA:

Acesse o site PELD MAUA

Ação Sensibilização sobre as mudanças climáticas
Texto: Clara Damasceno e Jochen Schöngart
Edição: Márcia Dementshuk
Fotos:  Jochen Schöngart – Acervo PELD-MAUA
Com informações de: Jochen Schöngart

Publicado por

Publicado por

Peldcom

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Send this to a friend