Dissertação de mestrado de Johnny Lima, do Peld Costa dos Corais Alagoas, segue protocolo internacional e busca respostas nos conhecimentos tradicionais
As mudanças climáticas, longe de uma ideia abstrata ou uma previsão para um futuro distante, já se fazem presente no dia a dia de pessoas de todo o planeta. Incêndios florestais, precipitações inesperadamente fortes e outros fenômenos climáticos extremos vêm se tornando cada vez mais comuns.
Estudar a percepção das comunidades sobre o impacto dessas mudanças é uma ferramenta essencial para entender o fenômeno e auxiliar na construção de políticas públicas de enfrentamento a essa realidade cada vez mais presente.
A pesquisa de Johnny Lima, mestrando do Programa de Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), busca entender a visão das comunidades pesqueiras de dois municípios alagoanos sobre o fenômeno. Integrante do projeto de Pesquisa Ecológica de Longa Duração Costa dos Corais Alagoas (Peld CCAL), Johnny vem questionando moradores de Paripueira e da Barra de Santo Antônio sobre suas percepções.
“Nossa atividade de pesca é muito rica, que vai desde o manguezal até o mar de dentro, a pesca com rede, com anzol, entre outras. Queremos entender o que está ocorrendo acessando a percepção das pessoas”, conta o pesquisador, que também trabalha como pescador na região da APA Costa dos Corais.
Como metodologia, eles adotaram o padrão desenvolvido pelo LICCI (Local Indicators of Climate Change Impacts), projeto global financiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa (ERC). “As comunidades possuem um conhecimento riquíssimo, construído com muita observação e experiência prática. Isso nos permite identificar quais aspectos afetam a atividade da pesca e estão diretamente vinculados às mudanças climáticas e as mudanças locais”, diz.
Em sua primeira fase, os pesquisadores conversaram com os especialistas da pesca, pessoas com maior experiência e capacidade de percepção e conhecimento na pesca local. “Eles usam os seus sentidos de maneira mais precisa, tivemos diversas reuniões. Agora vamos para a segunda etapa, quando concluiremos e chegaremos ao nosso objetivo”, detalha.
Branqueamento
Os pesquisadores do PELD Costa dos Corais Alagoas vêm analisando um fenômeno que também é particularmente preocupante para a região: o branqueamento de corais causada pelo aquecimento das águas do oceano. De acordo com Ricardo Miranda, que atua no PELD e no Corais do Brasil, anomalias na temperatura das águas na região vêm se tornando mais frequentes.
“O branqueamento está normalmente associado a esse aumento da temperatura. Os corais perdem as microalgas que vivem no interior de seus tecidos. Em condições saudáveis, as microalgas oferecem nutrientes para os corais crescerem e os corais oferecem o abrigo para elas viverem”, explica o pesquisador.
Quando o calor aumenta, os corais expulsam as microalgas de seus tecidos, já que elas começam a produzir substâncias tóxicas para eles. Como as microalgas também são responsáveis por dar a coloração dos tecidos dos corais, com a expulsão o que nós vemos é o esqueleto de carbonato de cálcio de coloração esbranquiçada, e por isso o nome branqueamento.
O fenômeno vem sendo responsável por um grande aumento na mortalidade de corais no mundo. “Aqui na APA Costa dos Corais, estamos monitorando esses recifes ao longo do tempo e já registramos alguns eventos de branqueamento anualmente. Em 2020, registramos um dos mais fortes registrados na história da região até agora, com uma grande mortalidade”, detalha.
Um artigo detalhando os impactos desse episódio foi aceito na Frontiers of Marine Science e está para ser publicado. O monitoramento segue sendo feito pelos pesquisadores do PELD Costa dos Corais, buscando mitigar os impactos das mudanças climáticas na região, que é a maior unidade de conservação marinha do Brasil.
Ação Sensibilização sobre as mudanças climáticas
Texto: Luan Oliveira
Fotos: Acervo PELD CCAL/AL
Edição: Márcia Dementshuk
Coordenação do Peldcom: Alessandra Brandão
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