Os estudos feitos por pesquisadores do projeto Planície de inundação do Alto rio Paraná, que faz parte do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração, o PELD PIAP, localizado no Paraná, constataram que o aumento da temperatura causado pelas mudanças climáticas pode diminuir a presença de algumas espécies de peixes no Rio Paraná, como o famoso dourado, um dos principais produtos da pesca profissional da região. A diminuição da presença do peixe influencia diretamente na economia local, além de causar impactos negativos na cadeia alimentar dos ambientes aquáticos, pois o dourado se alimenta de outros peixes. Resultados já apontam que a problemática, no futuro, pode diminuir a presença de locais de reprodução da espécie caso as alterações ambientais persistam.
O desequilíbrio intensificado pelo aquecimento global
A pesquisadora do PELD PIAP, Claudia Bonecker, explica como o aquecimento global influencia na reprodução e desenvolvimento de várias espécies, o que acaba, também, afetando os seres humanos. “Os eventos de chuvas intensas e secas extremas, que são intensificados com o aquecimento global, afetam negativamente a ocorrência e abundância de diversos organismos, desde plantas microscópicas, como as algas, até insetos aquáticos. No caso das algas, os períodos de secas extremas reduzem o número de espécies e favorecem a dominância de outras espécies. Dentre essas algas dominantes, temos aquelas que produzem toxinas, o que afeta a qualidade da água para consumo e lazer da população”, enfatizou a pesquisadora.
Em relação aos insetos aquáticos, segundo Bonecker, secas intensas contribuem para a redução do número de espécies nos ambientes e facilita o aumento de outras, causando um desequilíbrio. Esse acontecimento afeta diretamente a cadeia alimentar, pois esses insetos servem de alimento para várias espécies de peixes.
As mudanças climáticas também modificam a qualidade e quantidade de água disponível nos ambientes, favorecendo a ocorrência de espécies que não são naturais da região, chamadas de espécies invasoras. Isso influencia nas relações com as espécies locais, alterando também a cadeia alimentar e toda produção de vida nesses ambientes.
Outro problema é a construção de reservatórios para produção de energia elétrica na região, o que altera a disponibilidade de água, pois represa os rios, reduzindo a quantidade de água nos ambientes abaixo das barragens. Isso dificulta a reprodução e a sobrevivência de várias espécies de peixes, afeta a qualidade de água, reduz as áreas de turismo e recreação, o que se agrava em épocas de secas extremas.
Os impactos das mudanças climáticas na região do PIAP e no Brasil
As alterações climáticas no bioma Mata Atlântica afetam a ocorrência e abundância das espécies, as relações de predação e competição entre as espécies, e a disponibilidade de nutrientes, alimento e água de boa qualidade.
Um estudo do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), divulgado em março de 2022 pelo Greenpeace Brasil, revelou dados que já podem ser sentidos pelas pessoas. Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba já estão com a temperatura média bem mais alta do que as registradas no passado. A cidade de Cuiabá (MT), por exemplo, aumentou sua temperatura mínima em 1,6ºC em relação a 1931, se comparada com dados de outubro de 2020. Já em São Paulo os dias de chuva forte subiram de 9 para 16 na última década, de acordo com a reportagem.
É importante enfatizar que a região pesquisada pelo PELD PIAP está próxima a grandes centros urbanos e industriais, onde já ocorrem intensos impactos antrópicos, que são as ações das pessoas sobre o meio ambiente. Esses impactos alteram a qualidade de água para abastecimento e lazer; com as secas extremas temos menos água de boa qualidade. Logo, o bioma é impactado primeiramente por atividades dos humanos e pelo desenvolvimento das cidades e isso é intensificado pelas mudanças ambientais, como o aumento da temperatura, chuvas e a ocorrência de secas extremas.
Na planície de inundação do alto Rio Paraná, o aquecimento global altera a presença de espécies, chegando a promover a ocorrência de espécies não favoráveis ao ecossistema e a saúde, influencia na segurança alimentar (qualidade e quantidade da água e do pescado), pesca profissional, turismo e recreação da população. A partir disso, fica evidente que a alteração do ecossistema aquático causa impacto às pessoas que se beneficiam de forma direta ou indireta dos serviços oferecidos pela planície de inundação.
Possíveis soluções para convivência com o aquecimento global
Segundo a pesquisadora do PELD PIAP, Claudia Bonecker, a conscientização da população de como utilizar os produtos da natureza e a criação de medidas incentivadas por políticas públicas, visando a conservação da natureza com base na ciência, são as possíveis soluções para a convivência com as consequências das mudanças climáticas. Para ela, não existe solução para os problemas ambientais sem a junção da sociedade, ciência, economia e política:
“As mudanças climáticas estão acontecendo e, se as pessoas não acreditarem, vão cada vez se intensificar mais, porque também somos responsáveis, principalmente quando não respeitamos a natureza. É necessário que a população se conscientize que elas fazem parte do ambiente e não apenas utilizam os recursos naturais para sua sobrevivência. Elas também sofrem com as mudanças climáticas”, pontuou Claudia Bonecker.
A informação é o caminho para a conscientização sobre a causa
A representante do PELD PIAP também comentou sobre os últimos acontecimentos de chuvas intensas ocorridas no Rio de Janeiro, em 15 de fevereiro, quando a cidade de Petropólis enfrentou a maior chuva desde 1932. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento de Alertas de Desastre Naturais (CEMADEN) e o INMET, as chuvas tiraram a vida de pelo menos 233 pessoas, causando desmoronamentos de várias encostas e perdas de bens materiais para as pessoas da região.
Bonecker alerta ainda que as chuvas intensas podem acontecer na beira dos rios, onde pode haver erosão em suas margens, devido ao aumento da quantidade de água carregada pelo rio, e o desmoronamento de casas. A pesquisadora garante que a informação é o melhor caminho: “a popularização do conhecimento é um passo muito importante para conscientização dos riscos das mudanças climáticas, mostrando à população que as mudanças climáticas são reais e suas consequências ambientais chegam para todos”, concluiu.
Ação Sensibilização para as Mudanças Climáticas
Coordenadora do PELDCOM: Alessandra Brandão
Texto: Manoel Cândido
Com informações de: Cláudia Bonecker – PELD PIAP
Edição: Márcia Dementshuk
Fotos: PELD PIAP
Fonte de apoio: Greenpeace
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