Neste momento, pesquisadores da Rede Abrolhos estão em campo registrando os efeitos devastadores das mudanças climáticas e também buscando desenvolver estratégias de mitigação. Os recifes de corais são, possivelmente, os ecossistemas marinhos mais sensíveis às mudanças climáticas. Os estudos apontam que além das temperaturas mais elevadas do clima e do oceano, a má gestão da pesca e a sedimentação também são ameaças. A Rede Abrolhos integra iniciativas de pesquisa, capacitação, formação de recursos humanos e gestão ambiental e atua no âmbito do programa de Pesquisa de Longa Duração (PELD/CNPq).
Segundo o pesquisador do PELD ABROLHOS (PELD ABRS), Rodrigo Moura, “A importância dos recifes coralíneos pode ser comprovada a partir da constatação de que eles são os ecossistemas marinhos mais biodiversos e provêm alimento, renda e outros serviços ecossistêmicos para mais de meio bilhão de pessoas no mundo. Por serem construídos por organismos que mineralizam carbonato de cálcio, os recifes representam um compartimento muito importante do ciclo do carbono”. Ou seja, é um processo que permite a reciclagem do carbono e possibilita que esse elemento interaja com o meio e também com os seres vivos.
“Apesar dessa relevância, os recifes coralíneos estão sob um processo acelerado de degradação. Mais da metade da cobertura coralínea global morreu nas últimas décadas. No Brasil, que abriga o principal banco coralíneo do Atlântico Sul – Abrolhos, a situação é igualmente crítica. As mudanças climáticas são a principal causa do declínio dos recifes, seguida pela degradação da qualidade da água e a má gestão da pesca”, afirmou o pesquisador.
Aumento na temperatura da água do mar provoca branqueamento dos corais
Em explicação mais detalhada, Rodrigo Moura mostra que no oceano as mudanças climáticas se fazem sentir através de três processos interligados e associados ao aumento nas concentrações de gás carbônico na atmosfera.
Segundo os estudos, “o primeiro e mais conhecido desses processos são as anomalias na temperatura da água do mar, que induzem o branqueamento dos corais e muitas vezes levam a mortalidades em massa. A água do mar e a atmosfera cada vez mais quentes aceleram o derretimento do gelo nas regiões polares. Esse processo, por sua vez, implica no aumento do nível do mar, cujos efeitos já se fazem sentir em muitas áreas costeiras relativamente baixas”, enfatizou.
Enquanto isso, estudos pelo Peld Abrolhos também evidenciam que “o efeito menos conhecido da difusão do gás carbônico no Oceano é a acidificação da água do mar, que está ocorrendo em escala global e numa velocidade sem precedentes. A acidificação atinge em cheio os organismos mineralizadores de carbonato de cálcio, desde aqueles que fazem parte do plâncton, até os corais construtores de recifes”, ressaltou Rodrigo, alertando sobre o enfraquecimento da estrutura dos recifes.
Impactos podem ser mitigados
O conhecimento produzido pelo Abrolhos tem contribuído para a efetivação de políticas públicas na gestão dos ecossistemas marinhos, na mitigação e na adaptação dos sistemas recifais às mudanças locais, regionais e climáticas globais.
“A ideia que os recifes coralíneos brasileiros são resistentes às mudanças climáticas, tem se mostrado muito frágil e de pouca utilidade prática. Os recifes bem manejados são mais resistentes e resilientes às mudanças climáticas”, apontou o professor e pesquisador do Abrolhos, Rodrigo Moura.
Rede Abrolhos realiza estudos desde 2010
As Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) são imprescindíveis para a compreensão do funcionamento da natureza e para tomada de decisões por gestores públicos em relação à sustentabilidade ambiental do planeta. A Rede Abrolhos é parte importante desse processo, pois realiza estudos sobre o maior recife coralíneo do Atlântico Sul, o Banco dos Abrolhos.
A Rede Abrolhos conta com 26 pesquisadores, 4 colaboradores, 13 estudantes, 27 técnicos e 1 coordenador. Os estudos são realizados desde 2010, entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo. A sede da coordenação fica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A equipe de pesquisadores do projeto busca entender os processos relacionados à estruturação e a dinâmica dos recifes coralíneos frente a diferentes estressores locais, regionais e mundiais, como a pesca predatória, sedimentação, aquecimento global, desastres ambientais, além da conservação da biodiversidade.
Ação Sensibilização para as Mudanças Climáticas
Coordenadora do PELDCOM: Alessandra Brandão
Texto: Manoel Cândido
Edição: Márcia Dementshuk
Com informações de: Rodrigo Moura; Jana Del Favero (PELD ABRS).
Fotos: Rede Abrolhos
0 comentários