Por meio do Programa Ecológico de Longa Duração pesquisadores desenvolvem um projeto único no mundo com uma abordagem de monitoramento em longa duração do impacto climático na biota Amazônica, o Projeto Seca Floresta, Esecaflor. São experimentos aplicados em parcelas de vegetação onde se reduz em 50% a água que chega às plantas. Os estudos confirmam modelos climáticos que predizem que, com a redução da água nas próximas décadas, é possível que áreas de floresta tropical úmida, sejam substituídas por formações vegetais abertas, mais secas.
Alguns resultados já obtidos mostram o que pode acontecer à mata com as características locais, em caso de diminuição da chuva, num cenário de mudanças climáticas. Além da morte das plantas, o surgimento de cupins atinge a vegetação, a produção de seiva é prejudicada, bem como a transpiração, crescimento e fotossíntese. Algumas espécies podem deixar de existir.
O PELD Floresta Nacional do Caxiuanã (FNC), no estado do Pará, conduzido pelo professor e coordenador Leandro Ferreira, gira em torno de duas perguntas norteadoras: “O que aconteceria se as chuvas no Bioma Amazônia diminuíssem permanentemente em 50%? Quais os impactos dessa redução na biota da Amazônia?”. Para respondê-las, surge o Projeto Seca Floresta (Esecaflor), em 2002, ancorado no Museu Paraense Emílio Göeldi.
Detalhes da pesquisa foram apresentados no II Congresso Brasileiro de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia que aconteceu em Belém (PA), em 10 de agosto de 2022, realizado pela Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia (Bionorte) e parceiros, com o patrocínio da Fapespa e Capes e apoio do Sebrae, Rami, Governo do Pará, SESI e ABQ. Na ocasião, foram reunidos na mesa redonda “Biodiversidade Amazônica e os Projetos de Longa Duração (PELDS) – resultados das pesquisas de longa duração envolvendo a Biodiversidade da Amazônia Legal” os pesquisadores representantes dos projetos PELD DARP, TRAN, RAS e FNC, para colocar em pauta as considerações principais de suas pesquisas.
Pesquisas do Esecaflor corroboram com modelos climáticos
O pesquisador Leandro Ferreira expressa sua preocupação em relação à sobrevivência de arbustos e o sumiço de algumas espécies. Ele reforça que alguns modelos climáticos predizem que existe uma grande possibilidade de ocorrer nas próximas décadas uma substituição irreversível das áreas de floresta tropical úmida, por formações vegetais abertas, mais secas, com menor biomassa e menor abundância e riqueza de espécies. E os resultados do Projeto Esecaflor demonstram claramente que a redução hídrica artificial na parcela Experimental está corroborando esses modelos.
Armações com 6 mil painéis plásticos permitem o controle da água da chuva
A estrutura se dá por meio de duas parcelas de um hectare: uma denominada Controle e a outra Experimental. Na última, explica o professor, foi colocado “[…] um grande telhado, formado por 6 mil painéis plásticos, que reduz 50% da precipitação que cai na parcela.” Os dados físicos e biológicos do monitoramento são coletados simultaneamente nas duas parcelas, permitindo comparações. Ele ainda explica que os painéis utilizados na parcela Experimental “[…] são constantemente mudados para ter sempre transparência total. E 50% porque ele é aberto, para as árvores crescerem, já que o objetivo era exatamente simular uma redução hídrica, não fazer uma redução hídrica total”.
São dispostas oito trincheiras, com 5 metros de profundidade (sensor até 4 metros), em cada parcela, para medir a umidade do solo. Dessa forma, pode-se constatar a redução drástica da umidade do solo, desde sua superfície, até 4 metros.
Com a redução da água plantas entram em colapso
De acordo com a pesquisa, as consequências de tal redução são graves, a começar pela taxa de mortalidade das plantas. Outros estudos confirmam, através da medição de raízes, que variam de 1 até 4 metros de profundidade em busca de água, mas que, em dado momento, não conseguem mais se entender. O professor Leandro afirma que as árvores de maior diâmetro são as mais impactadas.
Para além disso, há consequências como o surgimento de cupins, diminuição em 30% do fluxo de seiva, assim como a transpiração, crescimento e fotossíntese das plantas na parcela Experimental. A diminuição da água nos vasos das plantas é substituída por ar, causando danos irreversíveis. De forma resumida, a planta entra em colapso.
Através de uma ressonância feita nos troncos, foi possível analisar a atividade do oco das árvores. No final do processo, a árvore colapsada não tem mais “miolo”. Mantém-se de pé apenas pela casca.
Os resultados também mostram a alta taxa de mortalidade das árvores que está atrelada à perda de biomassa da floresta, desde o início da pesquisa até a atualidade. Ficou claro que essa taxa na parcela Experimental é o dobro da parcela Controle, principalmente com as árvores maiores. Também ocorre a perda de carbono na parcela Experimental, e um ganho na parcela Controle. Além disso, ao passo que a quantidade de espécies diminui, a composição de novos indivíduos muda, tornando- se mais especializadas em ressecamento.
Programa PELD – O Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD) é uma iniciativa do Governo Federal, executado pelo CNPq, que, desde 1999, apoiou a propagação de diversos sítios de pesquisa distribuídos pelo país, a fim de realizar estudos que contribuem para o conhecimento de Ecologia de Ecossistemas, e como tratá-los de forma sustentável.
Os estudos do Programa PELD configuram informações de extrema relevância, e contemplam os interesses gerais da população. Nesse sentido, a partir da necessidade de transferir o conhecimento para a sociedade, em 2020 surge o Projeto de Comunicação Pública da Ciência dos PELD (PELDCOM).
Coordenação do Peldcom: Dra. Alessandra Brandão
Texto: Paloma Ribeiro
Fotos: Acervo PELD FNC/PA
Edição: Márcia Dementshuk
Site Esecaflor: https://www.esecaflor.ufpa.br/
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