Pesquisa na Amazônia aborda conjuntamente fatores sobre a degradação florestal

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4 de outubro de 2022

Erika Berenguer, pesquisadora senior da Universidade de Oxford, faz medições no Km 83, Floresta Nacional do Tapajós. Foto Marizilda Cruppe/Divulgação

A maioria das florestas tropicais do mundo hoje em dia está degradada de alguma maneira e é difícil achar uma floresta considerada intacta, mesmo dentro de reservas ou unidades de conservação. Segundo o pesquisador Jos Barlow (PELD-RAS, Universidade de Lancaster, Reino Unido, UFPA e UFLA), muitos estudos mostram que a degradação florestal está cada vez mais comum, não importa o país onde ocorre. O problema é que a maioria desses estudos é feita de maneira fracionada, olhando isoladamente os fatores. 

Por exemplo, pesquisadores estudam apenas os impactos causados pela atividade de corte seletivo das árvores, ou estudando as consequências das queimadas, ou as questões de efeito de borda – as alterações nas margens de um habitat. Mas Barlow alerta para o fato de que tudo isso acontece ao mesmo tempo na floresta e as consequências que levam à degradação se interpõem. Inclusive, em alguns casos, a recuperação da mata depende do tipo de dano que ela sofreu anteriormente.

Através de pesquisas, integrantes do PELD RAS – Rede Amazônia Sustentável, procuram saber o efeito da degradação a partir de uma visão abrangente. “É importante saber os efeitos da degradação em termos gerais. Esse foi o nosso objetivo nesse estudo”, explica Barlow.

O estudo faz parte do Programa Ecológico de Longa Duração (PELD-RAS), que tem entre os órgãos financiadores o CNPq e é coordenado através da Universidade Federal do Pará (UFPA). Há mais de 12 anos os cientistas têm desenvolvido estudos para entender os impactos causados pela ação do homem à natureza, como queimadas e desmatamentos. 

Soja e fragmento de floresta em Belterra (PA). Foto Marizilda Cruppe/Divulgacão

O PELD RAS tem como principal objetivo compreender os impactos causados por diferentes distúrbios climáticos (seca extrema) e antrópicos (incêndios florestais e extração madeireira) e o funcionamento das florestas da Amazônia, bem como a trajetória de recuperação dessas florestas ao longo do tempo. 

Tendo como campo de atuação o estado do Pará, conta com vários locais (sítios) de estudos nos municípios de Paragominas, Santarém, Marabá e Bragança. Os pontos de pesquisas foram instalados em propriedades privadas e unidades de conservação. Eles englobam áreas de florestas primárias intactas e perturbadas (queimadas, corte seletivo), florestas secundárias e igarapés (curso de água de pouca profundidade, estreito e navegável por pequenas embarcações). 

O estudo da equipe integrante da RAS ocorreu em cerca de 175 parcelas de florestas primárias nas regiões de Paragominas e Santarém, distribuídas ao longo de um gradiente de cobertura florestal primária (6% a 100%). Os estudiosos mediam a quantidade de área da floresta e a qualidade dela. 

PELD RAS: PRINCIPAIS RESULTADOS DAS PESQUIASAS

1 – Por que falar sobre a degradação é tão importante quanto o desmatamento?  

Igarapé Moju, no Km 126 da BR-163, na Flona Tapajós (PA). Foto Marizilda Cruppe/Divulgação

Pesquisas evidenciam que espécies sensíveis a perturbações que evitam as florestas de borda e perturbadas têm menos de 5% do habitat remanescente. Com isso, as florestas perderam mais para a degradação. 

Para estimar o valor de conservação de cada lote, era somada a riqueza dos lotes da floresta e depois multiplicava para a área de floresta primária naquela região, ou seja, eram consideradas a qualidade e o tamanho da floresta.

A redução do valor de conservação das florestas pode ser atribuída à degradação, além da perda de floresta. Os resultados da pesquisa mostram que em todos os lotes houve queda, um déficit no valor de conservação, algumas com cerca de 17% de perda, chegando a um total de 42% do valor de conservação, tendo como um dos principais fatores as queimadas.  

Estudo mais recente desenvolvido pela equipe evidencia o impacto causado pelas ações do homem em plantas grandes e pequenas, aves e besouros. A pesquisa mostra claramente a importância de se considerar a degradação, o endemismo da área de Belém, por exemplo, tem 67% de cobertura florestal.

2 – Quais são as consequências dos incêndios florestais em paisagens modificadas pelo homem? 

Em relação às queimadas, os cientistas estudaram os impactos causados pelo fogo nas árvores. Ao contrário do que se pensava, fatores como a espessura da casca, nitrogênio na folha e altura da chama foram os menos importantes. O efeito deles era só no início, depois eles não tinham forte impacto na mortalidade das árvores.

Os fatores mais importantes foram a densidade da árvore e o nível de degradação que aconteceu antes ao local. Quando se tem uma floresta intacta, talvez a proteção seja maior. 

3 – As mudanças climáticas estão afetando a capacidade das florestas após a perturbação? 

Considerando as evidências das pesquisas, Jos Barlow afirma que com as mudanças climáticas as florestas estão perdendo sua capacidade de regenerar. Um dos estudos aconteceu em Bragança/PA em uma área muito desmatada, onde não se encontraram florestas primárias. É uma região, assim como o resto da Amazônia, que está sofrendo com o aumento de temperaturas e diminuição das chuvas. 

Ao longo de 20 anos de coletas de dados e de pesquisa acerca de uma floresta secundária, os cientistas comprovaram que ela continua crescendo, mas em termos de biodiversidade ela continua estagnada, sem benefício para as espécies.  A taxa de acúmulo de carbono é muito baixa. Em Bragança, por exemplo, é de cerca de 1 tonelada de carbono por hectare a cada ano, número considerado bem baixo, enquanto tem florestas que chegam a 4 toneladas. O histórico de desmatamento pode estar contribuindo para a problemática. 

Resultados satisfatórios exigem prazos longos de pesquisa

Os estudos do PELD-RAS, assim como os outros que fazem parte do programa ecológico de longa duração, são essenciais para entendermos as inúmeras mudanças que o meio ambiente vem sofrendo. A partir de estudos como da RAS é possível entender que fatores que levam à degradação podem ser tão importantes quanto as consequências do desmatamento para a biodiversidade. Se por um lado incidentes de degradação ocorrem junto com desmatamento, como efeito de borda e fragmentação, por outro, alguns deles são distintos, como corte seletivo e o fogo, e precisam de intervenções diferentes, o que não existe em lei.  

Os estudos realizados pelos pesquisadores também mostram que a probabilidade de uma árvore grande morrer é maior quando ela está inserida em um local que já sofreu degradação antes. Então, quando acontecem cortes seletivos, queimadas, estamos tirando a capacidade de resiliência das florestas, contribuindo para o agravamento, cada vez mais, dos impactos das ações do homem ao meio ambiente.

Coordenação do PeldCom: Dra. Alessandra Brandão
Texto: Manoel Cândido
Fotos:  Divulgação RAS
Edição: Márcia Dementshuk
Site RAS: https://www.rasnetwork.org/

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