Pesquisadores Detectam Alterações na Fauna de Peixes em Lagos Nas Várzeas da Amazônia

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16 de dezembro de 2022

Problema só é Constatado Após Pesquisa de Longa Duração

Observando as condições dos peixes durante as cheias e secas nas várzeas da Amazônia Central, uma situação adversa deteve a atenção de pesquisadores e pesquisadoras que trabalham na região. Se a quantidade de peixes nos lagos diminuir por causa dos impactos por mudanças climáticas e outros problemas, como isso afetará a vida das pessoas que dependem desse recurso natural para o sustento da família, ou para se alimentar? E mais: quais fatores levariam à diminuição da quantidade de peixes? Como esses animais sobreviveriam em condições climáticas adversas?

Estes tópicos se tornaram parte do projeto PELD DIVA. A sigla quer dizer Diversidade da Várzea. É coordenado pela Dra. Flávia Siqueira de Souza, da Universidade Federal do Amazonas, instituição executora, ao lado da Dra. Cláudia de Deus, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Integra o Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração, o PELD, com financiamento por meio do CNPq, e conta ainda com financiadores através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

A proposta principal é “avaliar a dinâmica da diversidade de peixes, em resposta a diferentes tipos de manejo em áreas de várzea da Amazônia Central”.  Se por um lado esta é a ótica científica, por outro, na perspectiva do pescador, o peixe vivo passa a ser o “produto” de onde a pessoa na comunidade obtém o “dinheiro” para sobreviver. Mas esse “recurso” é natural. Ninguém “cria”, ninguém “manufatura”, ninguém “produz”. É o ciclo natural da biodiversidade que estabelece as condições para esses peixes se reproduzirem, vencerem as secas, povoarem as várzeas e estarem disponíveis para serem capturados pelas redes dos pescadores.

Entretanto, o ciclo natural vem sofrendo alterações. Historicamente, as secas severas são raras na Amazônia, contudo, nas últimas décadas, a frequência tem aumentado. Entre 2005 e 2016 a Planície de inundação do rio Amazonas sofreu uma sequência de fortes secas (2005, 2010 e 2016). Diante disso, o que teria acontecido com os peixes? Por estarem em campo há muito tempo, os pesquisadores do PELD DIVA conseguiram comparar como era a fauna de peixes antes e depois das secas.

Usando métodos científicos descritos no projeto Catalão, pesquisadores coletam, mensalmente, desde outubro de 1999, amostras de peixes no Lago do Catalão. Essa várzea fica perto de Manaus, na confluência do rio Solimões com o rio Negro, onde barcos conduzem turistas do mundo inteiro para admirar o encontro das águas. Nesse ambiente, o esforço de pesquisa de longa duração demonstra o efeito das secas sobre os peixes.

O projeto Catalão está incorporado ao PELD DIVA, pelo qual publicou no vídeo-divulgação “Os impactos das secas severas nos peixes da várzea” análises nas quais demonstra que após a seca de 2005 muitas espécies reduziram a quantidade, diminuindo a diversidade da fauna de peixes. Comparando antes e depois da seca de 2005, espécies que não migram e que cuidam dos ovos, como tucunarés e piranhas, perderam muito mais indivíduos, comparado com peixes migradores. E peixes que consomem outros animais e alimentação diversa são os mais afetados do que os que comem vegetais, algas ou lodo.

As coletas de pescados para amostras das pesquisas e as comunidades as quais são abordadas pelos pesquisadores estão em quatro áreas delimitadas:

1) Lago Catalão, na confluência dos rios Solimões e Negro, sem proteção ambiental formal e tampouco estratégias de manejo pesqueiro;

2) Ilha da Paciência, entre a foz do rio Purus e a confluência Solimões-Negro, uma APA municipal localizada entre a foz do rio Purus e a confluência Solimões – Negro, onde há manejo de lagos e manejo do pirarucu, um predador de topo de cadeia trófica;

3) RDS Piagaçu-Purus, no baixo rio Purus, uma unidade de conservação estadual onde também há manejo de lagos e de pirarucu; e

4) REBIO Abufari, no baixo Purus, onde a pesca é proibida e não há manejo de lagos ou de pirarucu, mas ocorre alguma pesca clandestina.

Pesquisas contribuem para crescimento econômico das comunidades de pescadores

Como mostra outro vídeo produzido por integrantes do PELD DIVA, os pescadores com suas famílias moram em casas de madeira, perto dos lagos, agrupados em comunidades. Vida de hábitos simples, o descanso na rede, e a principal fonte de proteína animal é extraída do peixe. A fim de elaborar um retrato fiel dessas comunidades, o PELD DIVA reserva um banco de dados com informações de 401 famílias: composição familiar, condições de moradia, escolaridade, atividades econômicas, acessos aos serviços públicos, acidente de trabalho e segurança alimentar.  E pretende estabelecer uma troca de informações com o maior número possível de colaboradores.

“A bacia Amazônia abriga a maior diversidade de peixes de água doce do planeta, com mais de 2400 espécies descritas e cerca de 45% endêmicas. Ao mesmo tempo, é um ecossistema fortemente ameaçado por desmatamento, construção de hidrelétricas, exploração de petróleo e gás natural, e sobrepesca. Mais recentemente, secas e cheias extremas, decorrentes de mudanças climáticas e de efeitos do desmatamento local, têm aumentado em frequência e intensidade, gerando perturbações na estrutura das comunidades de peixes e instabilidade nas capturas pela pesca.”

Diante das ameaças apresentadas no Resumo do projeto, as quais refletem a realidade vivida pelas pessoas, os resultados das pesquisas desenvolvidas pelo PELD DIVA contribuem para a elaboração de políticas públicas e para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades. Os pesquisadores elaboram ações de motivação para os moradores comercializarem as peças de artesanato E, proveitoso para quem trabalha com a pesca, os ensinam a identificar características biológicas dos peixes.  De maneira educativa, demonstram as vantagens e desvantagens das diferentes formas de manejo da pesca, essencial para a conservação do recurso natural.  

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