Pesquisa do PELD Abrolhos descreve formações submarinas desconhecidas pela ciência

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23 de dezembro de 2023

Habitats foram mapeados na costa do Espírito Santo e abrigam grande biodiversidade

Trabalho de coleta do PELD Abrolhos. Foto: PELD Abrolhos.

Há cerca de duas décadas, a Rede Abrolhos monitora o maior complexo coralíneo do sul do Oceano Atlântico, que fica localizado entre a Bahia e o Espírito Santo. Mas o trabalho deste PELD inclui outro desafio: o de mapear esses habitats. Recentemente, os pesquisadores descreveram um conjunto de pelo menos cinco rios submarinos que ainda não tinham sido explorados pela ciência no norte do estado capixaba, próximo a foz do Rio Doce. 

Essas formações submersas são resultado de diversos fatores. Com o passar de milhares de anos, a temperatura no planeta foi subindo e, consequentemente, grandes plataformas de gelo derretendo. Isso fez com que o nível do mar subisse e acabasse engolindo algumas praias e florestas, alterando o relevo das costas atingidas por esse fenômeno. 

O estudo do PELD Abrolhos trabalhou com as formações criadas a partir dessa transformação, que teve início ao fim do último ciclo glacial. São vales fluviais que foram preservados ao longo desse processo milenar, com incisões profundas deixadas pelos rios nas planícies costeiras. Dentro desses vales, foram formados rios submarinos, que não mais escoam água doce para o mar, mas trazem água fria e densa para dentro da plataforma continental do oceano. Com isso, chegam nessa área ovos e larvas de diversas espécies, criando um ecossistema único na região. 

A área onde foram encontrados os rios submarinos, no norte do Espírito Santo, foi batizada pelos pesquisadores de “Plataforma dos Paleovales”. Apesar de ser conhecida há tempos pelos pescadores artesanais da região, não existia um mapeamento científico. Com o uso de sonares foi possível obter imagens acústicas que revelaram os cursos e a morfologia (estrutura e configuração) dos rios, que chegam a ter 600 metros de largura, estando preservados entre 30 e 80 metros de profundidade. 

Após o mapeamento, veio o momento de se aprofundar na pesquisa. Para alcançar essas áreas, foi preciso ir além do mergulho convencional, utilizando os “rebreathers”, aparelhos que através da mistura de gases possibilitam o mergulho sob alta pressão. Também foram utilizadas câmeras de vídeo, adaptadas pelos próprios cientistas. 

A partir disso, foi possível encontrar que a área abriga uma grande diversidade de organismos se comparada a outras regiões próximas. Foram avistadas quase 70 espécies de peixes, incluindo algumas que são raras em recifes rasos, e corais que são típicos de regiões mais frias e profundas do oceano. Além disso, foi possível coletar a água do vale e, através de sensores, realizar caracterizações de sua velocidade e características físico-químicas.

“Esse estudo mostra como nós ainda conhecemos muito pouco do que está submerso. Não conhecemos nem o relevo, quem dirá a biodiversidade. Uma vez que conhecemos a topografia do fundo do mar, podemos ter uma ideia da biodiversidade que está associada a cada formação. É como se o relevo fosse um preditor da biodiversidade, formando um diálogo interessante com a geofísica”, destaca Rodrigo Leão Moura, coordenador do PELD Abrolhos. 

O artigo completo publicado na revista Plos One pode ser acessado aqui. 

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