Fernando de Noronha enfrenta cenário crítico de branqueamento de corais

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3 de maio de 2024

Expedição do PELD ILOC identificou ocorrências do fenômeno por toda a ilha

A expedição emergencial do PELD Ilhas Oceânicas para monitoramento de corais branqueados resultou em observações preocupantes para a biodiversidade de Fernando de Noronha (PE). Foram visitados 8 pontos do arquipélago – em todos o branqueamento foi registrado. Uma das espécies mais afetadas é a Siderastrea stellata, conhecida popularmente como coral estrela, que em alguns locais está quase 100% branqueada. O fenômeno de branqueamento vem ocorrendo devido a um aumento na temperatura do oceano. Nos mergulhos, foi registrado água do mar aos 30 graus de temperatura, dois graus acima da máxima histórica. 

Entre os dias 18 e 21 de abril, os pesquisadores do ILOC Marina Sissini e Paulo Horta, estiveram em Noronha visitando pontos estratégicos: Sapata, Cagarras, Laje Dois Irmãos, Baía dos Golfinhos, Porto, Ressurreta e Ilha do Meio. O que surpreendeu durante os mergulhos foi o branqueamento da espécie Montastraea cavernosa que, diferente dos corais estrela, habitam em profundidades de 10 a 20 metros. Isso significa que as ondas de calor estão afetando inclusive espécies onde a água é mais fria. 

A preocupação com esta espécie vem dos dados de 10 anos de monitoramento da saúde recifal baseado em espécies dominantes de corais realizado pelo PELD ILOC, que mostraram níveis de saúde estáveis e altos entre 2013 e 2019 para o Montastraea cavernosa, com 70 a 80% das colônias saudáveis, mesmo em anos onde os corais sofreram com ondas de calor meses antes do monitoramento. 

Os pesquisadores contam ainda com dados obtidos pela a bóia oceanográfica Aqualink, que transmite em tempo real os dados de temperatura da superfície e do fundo do mar na Baía dos Golfinhos, é possível checar à distância o momento ideal para realizar este monitoramento.

“As consequências da presente onda de calor, que perdura por 14 semanas, na saúde dos corais de Fernando de Noronha, ainda são uma incógnita. Precisaremos seguir monitorando de perto para ver o quanto conseguirão se recuperar”, explica Marina Sissini.

Para a expedição, os pesquisadores contaram com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Rede Coral Vivo e da da Operadora de Mergulho Sea Paradise, cujo proprietário faz parte da rede de cientistas cidadãos do ILOC. Todo trabalho foi documentado em tempo real pelo “Diário de Expedição”, série de conteúdos feita em conjunto entre o PELD Ilhas Ocênicas e o Peldcom. 

Para compreender o cenário

No início de março, a NOAA, Agência de Meteorologia e Oceanografia Norte-americana, emitiu um comunicado alertando que, entre março e julho de 2024, alguns pontos do planeta teriam 90% de chance de sofrer com o branqueamento de corais devido ao aumento de temperatura nas águas do mar. 

A situação é grave na costa brasileira, do Espírito Santo ao Rio Grande do Norte. Os projetos PELD Costeiro-marinhos estão trabalhando constantemente no monitoramento desse fenômeno, com diversos locais já estando no nível 2 de alerta da NOAA, o mais alto. Eventos similares de branqueamento ocorreram nas últimas décadas, o que causa um acúmulo de consequências que ainda não se dá para medir em meio a onda atual. Saiba mais aqui. 

A dimensão do problema

Os corais são animais invertebrados (sem esqueleto ósseo). Não são plantas e nem fungos, como muitos podem pensar. Os recifes onde habitam formam ecossistemas extensos e ricos em biodiversidade, responsáveis por abrigar boa parte dos seres vivos marinhos. Portanto, os corais são essenciais para a vida. Apesar de conseguirem se alimentar sozinhos, eles baseiam grande parte de sua dieta numa relação simbiótica com algas zooxantelas – ou seja, os corais e essas algas vivem numa relação que é benéfica para os dois lados. Enquanto as algas fazem fotossíntese e passam nutrientes para os recifes, os corais oferecem abrigo e alimentação inorgânica. 

O branqueamento ocorre quando a alga deixa o coral. Isso porque são os seus nutrientes que dão cor ao animal. Sem as zooxantelas, os corais se alimentam com deficiência, trazendo uma série de problemas que podem levar até à morte. 

Uma alga abandona o coral, geralmente, quando a temperatura do mar sobe, pois elas não conseguem continuar no habitat. Esse fenômeno pode ser natural e acontecer por diversos motivos. Mas, no caso que está sendo observado agora, a causa é uma anomalia térmica, isso porque os corais estão sofrendo em grupos numerosos, em diferentes locais do país e do mundo. 

Espécies diversas compõem um recife de corais, o que significa que as reações a essas condições também são diferentes. Os corais-de-fogo (Millepora sp), são mais sensíveis e já apresentam branqueamento extenso.

Repercussão na mídia

O site G1 produziu uma matéria sobre a expedição, que pode ser acessada aqui. Nela, o professor Paulo Horta declarou que “Nunca tinha visto uma situação como essa. Mergulho na ilha há décadas. Isso deixou uma cicatriz na minha alma. Se, em Fernando de Noronha, nós observamos branqueamento é porque o cenário é gravíssimo e precisa de atenção urgente”. 

Matéria produzida pelo Projeto PELDCOM

Coordenação Geral: Alessandra Brandão

Coordenação Executiva: Carol Salgado

Texto: Júlia Magalhães – Graduanda

Edição: Márcia Dementshuk

Fotos: PELD ILOC

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