Experimento de manejo pastoril do PELD Campos Sulinos no bioma Pampa

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9 de dezembro de 2024

Equilíbrio na intensidade de pastejo alavanca a produtividade primária e secundária e garante aumento da diversidade de espécies nativas

Quais os efeitos da interface planta-homem-animal na dinâmica das comunidades vegetais e no forrageamento em ambientes complexos como são os campos naturais? Esta foi a abordagem da Engenheira Agrônoma e mestranda em Ecologia na UFRGS, Victória Meotti, na apresentação “O PELD na prática: Experimento de manejo pastoril na propriedade rural Cordilheira”. A Rede Campos Sulinos participou do Seminário “Pecuária Familiar: 300 anos de invisibilidade” realizado na localidade de Palmas, em Bagé (RS), entre 22 e 23 de novembro.

Segundo Victória, a proposta do PELD Campos Sulinos através do experimento na propriedade é submeter o sistema a intensidades moderadas de pastejo proporcionando aos animais maiores oportunidades de seleção de forragem pelo aumento da diversidade de espécies. “Quando há alta intensidade de pastejo, as espécies de plantas rasteiras (prostradas e estoloníferas) tendem a predominar no ambiente, pois apresentam estratégias adaptativas que favorecem sua coexistência em áreas com sobrepastoreio, ocorrendo assim a diminuição da diversidade de espécies locais, como as cespitosas e rosuladas, sendo um exemplo o caraguatá (Eryngium horridum) que também é importante para os animais e para a conservação da biodiversidade, uma vez que serve de abrigo e proteção para várias outras espécies, como as aranhas. Neste ambiente, o que limita a produtividade é a baixa quantidade de forragem e a estrutura que desfavorece a ingestibilidade do pasto.” Já quando a intensidade é baixa, “a limitação se dá na digestão já que nesses ambientes predominam as touceiras com folhas que tendem a ser mais fibrosas (duras),” explicou Victória sobre o equilíbrio necessário na intensidade de pastejo para favorecer a coexistência das espécies no ambiente e possibilitar um extenso menu aos animais sem que precisem deslocar-se tanto para encontrar alimento nutritivo e de sua preferência.

O experimento prevê a avaliação da produtividade primária (vegetal) e secundária (animal) em dois tratamentos em comparação: o vigente, que é contínuo e, o proposto que é rotacionado. “No sistema rotativo dividimos o piquete como em fatias de uma pizza, e conduzimos os animais de modo a diferir, ou seja, deixar áreas em descanso,” disse a respeito da vantagem que resulta desse diferimento, que é, potencialmente, ter boa disponibilidade de forragem durante o ano todo. Inclusive no inverno, quando é baixa a oferta de forragem, ou durante uma seca. Tendo assim, o próprio campo como “válvula de escape” frente a eventos extremos que reduzam a oferta de alimento. Além disso, o PELD Campos Sulinos realiza levantamentos florísticos das áreas. Nesta propriedade, o levantamento feito numa área de intensidade moderada, equivalente a 90 parcelas distribuídas em 60 hectares, resultou na soma de 45 espécies de plantas em um metro quadrado. E ainda a identificação de uma espécie rara de trevo nativo: Trifolium argentinense.

“O conhecimento tem que ser útil para quem lida com os campos naturais. Ao entender como o manejo é feito atualmente, entenderemos como será possível melhorar o sistema de produção. Como isso tem que ser junto, ciência e pecuaristas, realizamos o experimento na propriedade parceira para poder identificar as limitações de cada tratamento de pastoreio, contínuo e rotativo, quais os custos, e assim por diante,” disse o coordenador das pesquisas da Rede Campos Sulinos, o Prof. Dr. do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da UFRGS, Valério Pillar.

A pecuarista familiar Vera Colares, parceira do PELD Campos Sulinos, considera muito relevante dividir a sua experiência com cientistas. “Sempre tivemos anos com mais ou menos chuva e aqui não usamos irrigação ou adubo, aqui o campo é nativo. Mas, como o clima está mudando, a gente está percebendo cada vez mais as diferenças: vai ter ano que o pasto vai sobrar, como em 2024; e outros que não, que o pasto seca como foi há um ou dois anos atrás. E acompanhar tudo isso com a ciência será muito interessante,” disse. Victória concluiu: “Nós estudamos melhores formas de produzir visando a tornar o sistema produtivo mais resiliente aos eventos extremos climáticos, como seca e enchentes, que recentemente assolaram o Rio Grande do Sul, e mais autônomos com menor dependência de insumos externos e à oscilação de preços, para com isso garantir maior sustentabilidade ambiental, econômica e social.

“O Seminário foi organizado pela Associação para Grandeza e União de Palmas (Agrupa) com o apoio de associações da pecuária familiar tradicional do Rio Grande do Sul, da UERGS, da Embrapa Pecuária Sul, da URCAMP, da Emater/RS, entre outros.

Matéria produzida pelo PELD CSUL/Rede Campos Sulinos

Texto: Eliege Fante, jornalista, doutora em Comunicação e Informação e bolsista PELD Campos Sulinos

Fotos: Ana Porto, Lidiane Boavista, Mateus Schenkel e Victória Meotti/Rede Campos Sulinos

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