Pesquisadores do PELD NFAU organizam publicação com dados do bioma em extinção
A Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) lançou o livro “Chaco: caracterização, riqueza, diversidade, recursos e interações”. A obra, organizada pelos pesquisadores Ângela Lúcia Bagnatori, Paulo Robson de Souza e Rosani do Carmo de Oliveira Arruda, trata de um projeto multidisciplinar que fala acerca de aspectos biofísicos, flora, fauna e microliquens do Chaco, bioma que no Brasil, ocorre apenas no Mato Grosso do Sul.
Para a construção deste livro participaram 58 pesquisadores, sendo 39 da UFMS, entre docentes, discentes e técnicos. Além disso, a obra também contou com a colaboração de instituições nacionais e estrangeiras.
A pesquisadora Ângela Bagnatori, que faz parte do Peld NFAU, (sítio que iniciou no PELD em 2020), explicou ao site como foi o processo de produção do livro:
“A ideia foi motivada sobretudo pelo volume de dados obtidos de dois projetos de pesquisas realizadas no Chaco, com financiamento do CNPq. Devido ao caráter multidisciplinar dos projetos, dispúnhamos de dados interessantes na área da botânica, com desdobramentos na zoologia e no geoprocessamento. O convite para os capítulos foi apresentado aos autores e daí resultou no livro, que conta com a participação de 58 pesquisadores. O livro é composto por 18 capítulos distribuídos em 5 seções, conforme o tema. Alguns capítulos não se referem especificamente ao Chaco em território brasileiro, mas sim ao bioma.”
Bioma Chaco ocorre no Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia
Chaco, que significa diversidade na língua indígena Quíchua, é um bioma caracterizado pelas florestas secas que ocorrem no centro da América do Sul e que se estende em quase de um milhão de quilômetros quadrados. Assim, esse tipo de ecossistema ocorre em vastas planícies entre o norte da Argentina, o Paraguai e a Bolívia, além de estar presente no Brasil, nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Além das florestas secas, o bioma se caracteriza por uma variedade de climas e ecossistemas, indo das florestas pampas até o semiárido.
As temperaturas costumam variar bastante nesse tipo de ambiente, podendo oscilar entre os -7º C no inverno e 47º C nos verões. As médias de chuvas também podem variar de acordo com a região, de 400 mm a 1.600 mm ao ano.
Bioma é ameaçado pelo agronegócio
No Brasil, devido ao avanço da pecuária na região do Mato Grosso do Sul nos últimos 40 anos, o Chaco sofre grande risco de desaparecer do território brasileiro. A área original do bioma no país em 1998 era estimada em 12.400 km², o que equivale a um pouco mais da metade do estado do Sergipe. Contudo, 20 anos depois, em 2008, técnicos do Ministério do Meio Ambiente constataram que esta área já havia desaparecido.
De acordo com Bagnatori, o Chaco tem sido gradativamente substituído pelo avanço das fronteiras agropecuárias em todos os países onde ocorre. Isso ocorre devido à fácil ocupação das áreas que possuem um relevo plano e, em alguns locais, solo bom para a lavoura. Dessa forma, o desmatamento causa perturbações nas formações chaquenhas, o que têm resultado no empobrecimento do solo e diminuição da biodiversidade.
Hoje, a área de Chaco presente no território brasileiro está concentrada no interior de fazendas na região do município Porto Murtinho (MS), junto à fronteira com o Paraguai.
A pesquisadora faz o alerta de algumas das principais consequências relacionadas ao desmatamento do bioma. Ela chama atenção para os impactos diretos na biodiversidade do Chaco:
“Dentre os vários prejuízos, podem ser destacados os impactos diretos nos elementos da biodiversidade com redução dos serviços ecossistêmicos, aumento de desertificação, alteração genética de populações de plantas, empobrecimento da população humana que depende dos recursos do Chaco, dentre outros. Com o desmatamento a rede de interações entre plantas e polinizadores que garantem a produção de frutos, inclusive os comestíveis, bem como, a manutenção da fauna local fica prejudicada.”
“A ocorrência de espécies adaptadas às elevadas temperaturas e escassez hídrica poderia compor pesquisas relevantes considerando as mudanças climáticas, mas se tais espécies desaparecem, perderemos tais informações supostamente preciosas. Ainda, espécies da flora e fauna chaquenha podem elucidar questões relativas à biogeografia da América do Sul”.
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Peldcom
Coordenação| Alessandra Gomes Brandão
Texto| Pedro Augusto Rodrigues
Edição| Márcia Dementshuk
Imagem| Capa Folha de Pernambuco online
Fonte| PELD NFAU
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