Desmatamento, redução de chuvas e morte das árvores sinalizam para o futuro da Amazônia
O título acima poderia ser apenas uma chamada de um filme de ficção para agitar os fins de semana monótonos, mas não é. Ao contrário disso, trata-se da realidade mapeada por mais de 30 anos de investigação científica realizada pela equipe do sítio “Transição Amazônia-Cerrado” PELD-TRAN, cujos resultados apontam para a aproximação do ponto de não-retorno ao perfil original daquela região. O fato é que a pesquisa tem demonstrado a forte relação entre desmatamento, redução de chuvas e frequências das secas – um fenômeno progressivo que está levando a Amazônia para o chamado tipping point.
As inquietantes constatações apresentadas pelas pesquisas do PELD-TRAN não param por ai. Elas nos dizem também que o aquecimento da região está contribuindo para acelerar a mortalidade de árvores da transição Amazônia-Cerrado devido a diversos fatores, mas especialmente às tempestades mais intensas. Este fenômeno foi trado em um artigo publicado da equipe na revista científica Journal of Ecology, “Neste estudo, analisamos cerca de 15 mil árvores, revelando que mais de 70% da mortalidade foi devido aos ventos mais fortes provocados pelas mudanças climáticas locais e globais”, revela Ben-hur Marimon, coordenador da pesquisa.
A equipe mapeou também uma diminuição do crescimento das árvores da Amazônia devido ao aumento da temperatura, queda da umidade do ar, falta de umidade do solo e excesso de radiação solar. Conforme Beatriz Marimon, entre 1996 e 2016, eles calcularam a produção de biomassa anual das árvores da Amazônia, que teve declínios acentuados durante os fortes eventos de El Niño de 1997/8 e 2015/6, fenômeno ligado ao aquecimento global.
Outra consequência das variações climáticas é a diminuição no número das espécies de árvores menos resistentes a seca na Amazônia. A parte positiva disso, é que a análise também revela quais espécies mais resistentes às mudanças climáticas, podendo ser utilizadas em plantios para a recuperação de áreas degradadas. Entre outros resultados destacados pela equipe TRAN está a constatação de que a Floresta Amazônica poderá resistir a um aumento de temperatura até no máximo 32,2°C (média das máximas), limite a partir do qual as árvores começam a morrer devido ao estresse térmico e hídrico. Como diz Diogo Costa, pesquisador do sítio, o maior impacto, neste caso, é na transição Amazônia-cerrado, devido aos picos de calor muito intensos que elevam esta média acima dos 34°C, com temperaturas máximas chegando até 45°C, como é o caso da maioria das parcelas monitoradas pelo sítio.
Impactos sociais das alterações na biodiversidade
Diante desse cenário, são esperados inúmeros impactos negativos decorrentes das alterações na biodiversidade e dinâmica ecossistêmica, principalmente com a perda de serviços ecossistêmicos como redução da disponibilidade de habitat, da capacidade de provisão de alimento e do potencial de proteção costeira.
Rubens Bedin, outro pesquisador do grupo, enfatiza que é necessário parar imediatamente com o desmatamento e as queimadas para abertura de novas áreas. “Este é o maior problema, cuja solução passa por politicas públicas sérias que efetivamente resultem em controle do mau uso da terra. Tecnologias agropecuárias como plantio direto, integração lavoura-pecuária, integração lavoura-pecuária-floresta e agricultura de precisão, aplicadas aos quase 30 milhões de hectares de pastagens degradadas nos estados que abrangem o sul da Amazônia, resultariam em crescimento exponencial da produção de grãos e carnes sem a necessidade de derrubar uma árvore sequer”, argumenta Bedin.
A questão, no entanto, necessita de vontade política, emprego de recursos nacionais e internacionais e intensificação da fiscalização ambiental por parte dos órgãos reguladores dos estados da Amazônia Legal e União, salienta Celice Alexandre Silva, integrante do TRAN. Segunda a pesquisadora, a recuperação de áreas degradadas, especialmente em nascentes e beira de cursos d’água seria uma medida adicional importante. Por fim, sugere integrar o produtor rural (pequeno, médio e grande) neste processo, como ator fundamental para o sucesso da conservação da natureza e proteção da Amazônia contra os efeitos das mudanças climáticas.
Quer conhecer mais sobre o PELD-TRAN? Conheça diversas publicações sobre o trabalho da equipe nas publicações abaixo:
- Matéria no The Economist: https://www.economist.com/briefing/2019/08/01/the-amazon-is-approaching-an-irreversible-tipping-point
2) Matéria no Jornal Nacional | G1 (Ben Hur): https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/07/23/ambientalistas-denunciam-incendios-florestais-criminosos-no-norte-de-mato-grosso.ghtml
3) Notícia na Agência Reuters: https://www.reuters.com/article/climate-un-amazon-tipping-point-idAFL8N2RF6IZ
5) Matéria na Rede Globo regional (Simone e Beatriz): https://globoplay.globo.com/v/10361621/?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-bar
6) Matéria na BBC: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-6055784
7) Matéria no G1: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2022/03/01/mudancas-climaticas-como-ventanias-atipicas-matam-arvores-da-amazonia.ghtml
Ação Sensibilização sobre as mudanças climáticas
Texto: Alessandra Brandão
Com informações de: Dr. Ben Hur Marimon
Fotos: Acervo PELD TRAN
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