Quase todos os anos, nós brasileiros, podemos acompanhar as queimadas na região do Pantanal. Em 2020, por exemplo, a região enfrentou uma das piores secas dos últimos 50 anos, o que ocasionou a queima de 30% do bioma, causando graves prejuízos ambientais e econômicos ao país. Além disso, o fogo empobrece o solo e desequilibra o ecossistema.
A partir dessa problemática, o Núcleo de Estudo do Fogo em Áreas Úmidas – NFAU/MS, que integra o Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração, o PELD, está iniciando estudos a respeito dos efeitos do fogo e da inundação no Pantanal. Os pesquisadores tentam entender como fatores como o fogo e a inundação podem atuar na estruturação das comunidades daquela região. As mudanças climáticas estão relacionadas com o tema na medida em que podem potencializar eventos extremos como grandes inundações ou grandes secas com ocorrência de fogo em larga escala.
O que o PELD NFAU irá pesquisar?
“O nosso sítio é recente e ainda não temos resultados que possam relacionar com o aquecimento global. Os temas que a gente trabalha são bastante relacionados no sentido de que a gente tá pesquisando efeitos do fogo e da inundação na estruturação das comunidades no Pantanal. Uma das coisas que tem bastante a ver com aquecimento global é a questão de que o fogo coloca bastante carbono na atmosfera. Os incêndios, quando ocorrem no Pantanal, são geralmente de grande magnitude quando há um ciclo de seca, então, potencialmente as queimadas aumentam o carbono na atmosfera”, afirma, de maneira simplificada, Geraldo Damasceno, pesquisador do PELD NFAU.
Damasceno também explica quais são os objetivos do PELD NFAU e o que os estudos pretendem descobrir através das análises que já estão sendo realizadas: “Uma das coisas que pretendemos é entender o quanto isso [queimadas] libera de carbono na atmosfera, quanto que fica retido, e o quanto esse sistema recupera de carbono depois do fogo, quando ele inunda. Se conseguirmos fechar essas questões, vamos entender como o Pantanal interage nessa questão do ciclo do carbono e quanto que ele contribui ou retira de carbono da atmosfera”.
A região do Pantanal é considerada como a maior área úmida do planeta, chegando a expressiva marca de mais de 160.000 km2, localizada bem no centro da América do Sul. A maior parte está localizada em território brasileiro, cerca de 140.000 km2, mais exatamente nos estados do Mato Grosso do Sul (66,64%) e Mato Grosso (35,36%), já outros países como a Bolívia e Paraguai possuem 15.000 km2 e 5.000 km2, respectivamente.
Eventos extremos, como as queimadas que ocorreram no ano de 2020 no Pantanal, resultam em dimensões trágicas nos ecossistemas, como grande mortalidade de indivíduos, mas também perdas econômicas como destruição de pontes, cercas, sedes de fazenda, casas, tratores e outros equipamentos utilizados no trabalho das propriedades rurais, bem como as questões de poluição decorrentes do fogo.
As consequências das queimadas no Pantanal
De acordo com um estudo que contou com mais de 30 pesquisadores, liderado por Walfrido Tomas, da Embrapa Pantanal, o fogo devastou a vida de mais de 17 milhões de animais vertebrados, somente em 2020. As mortes podem ser ainda maiores. “No estudo, destacamos que apesar de ser um número elevado não inclui os animais que morreram buscando refúgio em tocas e também não contabiliza os animais que morreram posteriormente, em consequência dos incêndios, como por exemplo pela dificuldade em encontrar recursos, como água e alimento”, contou Rafael Chiaravalloti, participante do estudo e integrante do Instituto de Pesquisas Ecológicas, o IPÊ.
As consequências para os ecossistemas e para as pessoas, no caso do Pantanal, com a ocorrência de chuvas e de queimadas, são bastante ruins para a população local, causando grandes prejuízos, conta Damasceno: “Quando se tem eventos extremos, você diminui a previsibilidade do sistema. Em evento extremo de seca com a ocorrência de fogo, incêndios florestais catastróficos, as pessoas são pegas de surpresa. Como aconteceu em 2020, com perdas de pontes, tratores, casas, esses eventos têm uma tendência de serem catastróficos e com consequências econômicas importantes”.
Dois extremos: 40% a menos de chuvas e 2ºC mais quente em 2020
Em 2020, o bioma da região do Pantanal teve cerca de 40% de redução no volume de chuvas e houve um aumento de 2ºC na temperatura média. Isso não acontecia desde 1980. A falta de chuvas aliada com o aumento da temperatura contribuíram e formaram condições favoráveis para as queimadas ao longo de 2020.
“As mudanças climáticas tendem a acentuar os eventos mais extremos. O Pantanal tem, todo ano, um período que ele fica cheio e outro que fica seco. Na medida em que você tem a ocorrência de secas muito pronunciadas ou, às vezes, cheias muito extremas, isso interfere no sistema porque ele é adaptado a um pulso anual de cheia e seca onde você tem os processos ocorrendo, normalmente, adaptados a esse pulso, no momento em que esse pulso se torna muito forte, no sentido de encher muito ou no sentido de ter uma seca muito pronunciada, você afeta o sistema”, concluiu o pesquisador Geraldo Damasceno.
A solução para diminuir as queimadas desordenadas
Em relação ao fogo no Pantanal, as direções apontadas pelos pesquisadores do PELD NFAU são o uso do Manejo Integrado do Fogo nas propriedades rurais e unidades de conservação. O uso dessa ferramenta prevê o uso do fogo em áreas com alta carga de combustíveis de maneira preventiva, para evitar a ocorrência de grandes incêndios florestais.
“Uma das principais direções que a gente aponta para resolver os problemas relacionados ao aquecimento global é a realização do Manejo Integrado do Fogo, no sentido de que o fogo planejado, em determinadas áreas para fazer manejo nas propriedades rurais, pode minimizar a quantidade de carbono que é aportado na atmosfera quando comparado com fogo de um incêndio florestal catastrófico. Esse planejamento do fogo em unidades de conservação, de certa forma, é melhor do que quando você tem o evento desordenado, fora de controle”, explica Geraldo Damasceno.
Texto: Manoel Cândido com Rosa Helena da Silva – PELD NFAU e Victor Hugo Sanches – PELD NFAU
Fotos: Victor Hugo Sanches
Edição: Márcia Dementshuk
Com informações de: Geraldo Damasceno – PELD NFAU
Fontes de apoio: SOS Pantanal; IPÊ.
Links de apoio:
SOS Pantanal
Instituto de Pesquisas Nacionais – IPÊ
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