Situação dos recifes coralíneos já é considerada crítica em diversos locais do Brasil
Recentemente, a NOAA, Agência de Meteorologia e Oceanografia Norte-americana, emitiu um comunicado alertando que, entre março e julho de 2024, alguns pontos do planeta teriam 90% de chance de sofrer com o branqueamento de corais. Isso se deve, principalmente, ao aumento na temperatura do mar.
No Brasil, esse fenômeno está sendo detectado da costa do Espírito Santo até o Rio Grande do Norte, com maior gravidade e extensão, até onde se sabe, na região Nordeste. Das sete áreas monitoradas pela agência, seis estão em nível de alerta.
Os sítios PELD costeiro-marinhos TAMS, CSB, CCAL, ILOC, ABRS e HCES* já fazem um trabalho constante de pesquisa e análise nos recifes de quase toda a costa brasileira, e divulgam resultados dos impactos preocupantes dessa atual onda de calor.
Pontos críticos
Em 19 de março, último dia de verão, boa parte dos recifes da região de Abrolhos, na Bahia, entrou em Alerta Nível 1 da NOAA para branqueamento. O professor Rodrigo Leão de Moura, coordenador do PELD ABRS, explica que o outono, estação em que acabamos de entrar, é justamente o período mais crítico para a saúde dos corais, por ter maior calor acumulado na água.
Em Tamandaré, Pernambuco, o projeto TAMS já identificou várias espécies afetadas pela onda de branqueamento, e chama a atenção para um possível evento de grandes proporções. O PELD CCAL, de Alagoas, intensificou o monitoramento, que já é feito há 7 anos, por conta do fenômeno que vem acontecendo.
O PELD Ilhas Oceânicas, com informações de Fernando de Noronha, faz parte da Rede Coral Vivo que está monitorando o branqueamento a nível nacional, e conta com uma boia oceanográfica que registra em tempo real a temperatura da superfície e do fundo do mar. Os dados apontam que a região também está em Nível 1 de alerta (NOAA).
Mais ao Sul, no Espírito Santo, o PELD HCES registrou um aumento gradual do branqueamento a partir de outubro, com máxima em dezembro e uma redução da biomassa das algas, também neste mês. Uma questão curiosa e preocupante: os pesquisadores encontraram organismos que são comumente associados a uma maior resiliência apresentando sinais de “estresse térmico”. A relação entre o aumento de calor e esses sintomas ainda vai ser testada, mas já foram registradas temperaturas de até 31°C nas águas dessa região, o que leva a um estado de alerta.
Pesquisas dos projetos PELD Costeiro-marinhos mapeiam a real situação dos corais
As análises estão sendo feitas pelos sítios PELD e todas as informações coletadas, mesmo sendo preliminares, estão sendo de suma importância para mapear a real situação. Nas próximas semanas, será possível ter uma concepção mais ampla do cenário.
“Ainda não se pode falar em branqueamento em massa em 2024, mas o prognóstico não é bom para os recifes de Abrolhos, que sofreram com o fenômeno em 1993, 1998, 2003, 2010, 2016-17 e 2019. Mais do que registar o branqueamento, a base de dados do PELD Abrolhos, a maior sobre recifes coralíneos no Atlântico Sul, vem permitindo estudar os efeitos cumulativos das ondas de calor, cujas consequências sobre o ecossistema recifal já podem ser categorizadas como catastróficas”, pontua Rodrigo Moura.
A onda mais recente, entre 2019 e 2020, também foi grande e causou danos em diferentes partes da costa brasileira. Beatrice Padovani, coordenadora do PELD TAMS, destacou para a Agência Brasil que esses eventos estão cada vez mais frequentes, e são um aviso sobre a questão climática. “Eles podem nos dar alertas importantes sobre as mudanças climáticas. Não vão ser só os recifes de coral que serão afetados. É um alerta para a humanidade”, explica.
Para compreender a dimensão do problema
Os corais são animais invertebrados (sem esqueleto ósseo). Não são plantas e nem fungos, como muitos podem pensar. Os recifes onde habitam formam ecossistemas extensos e ricos em biodiversidade, responsáveis por abrigar boa parte dos seres vivos marinhos. Portanto, os corais são essenciais para a vida. Apesar de conseguirem se alimentar sozinhos, eles baseiam grande parte de sua dieta numa relação simbiótica com algas zooxantelas – ou seja, os corais e essas algas vivem numa relação que é benéfica para os dois lados. Enquanto as algas fazem fotossíntese e passam nutrientes para os recifes, os corais oferecem abrigo e alimentação inorgânica.
O branqueamento ocorre quando a alga deixa o coral. Isso porque são os seus nutrientes que dão cor ao animal. Sem as zooxantelas, os corais se alimentam com deficiência, trazendo uma série de problemas que podem levar até à morte.
E uma alga abandona o coral, geralmente, quando a temperatura do mar sobe, pois elas não conseguem continuar no habitat. Esse fenômeno pode ser natural e acontecer por diversos motivos. Mas, no caso que está sendo observado agora, a causa é uma anomalia térmica, isso porque os corais estão sofrendo em grupos numerosos, em diferentes locais do país e do mundo.
Espécies diversas compõem um recife de corais, o que significa que as reações a essas condições também são diferentes. Os corais-de-fogo (Millepora sp), são mais sensíveis e já apresentam branqueamento extenso.
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HCES: Habitats Costeiros do Espirito Santo
ILOC: Monitoramento de longa duração das comunidades recifais das Ilhas Oceânicas brasileiras
TAMS: Tamandaré – Dinâmica espacial e temporal da paisagem marinha:
conectividade, resiliência e uso sustentável no sul de Pernambuco
PELDCOM
Coordenação Geral: Alessandra Brandão
Coordenação Executiva: Carol Salgado
Texto: Júlia Magalhães – Graduanda
Edição: Márcia Dementshuk
Editoração Eletrônica: Júlia Magalhães – Graduanda
Fotos: PELD TAMS e ABRS
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