Mudanças climáticas: entenda a importância da conservação na contenção de eventos extremos

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5 de junho de 2024

Catástrofe no Rio Grande do Sul evidencia a necessidade de adaptação a uma nova realidade 

Visão aérea da catástrofe no Rio Grande do Sul. Foto: Amanda Perobelli/REUTERS

O alerta de chuvas fortes já vinha sendo dado há dias, mas poucos minutos bastaram para que a vida de milhares de gaúchos se transformasse num pesadelo. Na manhã do dia 30 de abril, os olhos de todo o Brasil já se voltavam para as cenas de dezenas de cidades do Rio Grande do Sul submersas. Mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes, contabilizando 172 falecidos e danos materiais que ainda não é possível calcular. 

Diante de um cenário tão triste, os planos de reconstrução e as dúvidas quanto a como evitar situações como essa ganham os holofotes. Nos últimos anos, o mundo finalmente começou a dar atenção para as mudanças climáticas, após décadas de avisos emitidos por especialistas. Muito tem se ouvido sobre adaptação a uma nova realidade frente às mudanças climáticas, mas há como mitigar esses efeitos ou já é tarde demais? 

Para Gerhard Overbeck, vice-coordenador do PELD Rede Campos Sulinos e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a situação do estado gaúcho poderia sim ter sido atenuada. “A preservação da vegetação nativa tem uma relevância muito grande para o que aconteceu aqui em duas escalas. Numa escala global, a gente vive no mundo de mudanças climáticas, e são as emissões em nível global que estão contribuindo para esse problema. A outra escala é em termos do uso da terra, que influencia também nos processos da vegetação nativa que presta uma série de serviços ecossistêmicos para nós. Então a maneira como a gente organiza o uso da Terra, preserva ou não os ecossistemas nativos, obviamente tem grande impacto”, explica. 

Para se ter uma noção, a região do Guaíba (corpo hídrico classificado tanto como lago e como rio) que banha a capital Porto Alegre e sofreu com a cheia das enchentes, perdeu 1.3 milhão de hectares de vegetação nativa de 1975 até agora. “A gente já teve dois eventos catastróficos, duas enchentes do Guaíba em 2023, então num período de menos de três anos foram três enchentes grandes”, pontua o professor. “A vegetação nativa consegue minimizar esses impactos. É essa função que todo mundo sabe da vegetação como uma esponja que absorve a água, que desacelera o fluxo da água, fazendo o pico da inundação ser menos severo”. 

A depredação da vegetação nativa está diretamente ligada ao uso comercial da terra, com uma lógica de produção que enxerga o lucro imediato, mas não as consequências. “E olhando para cenários de mudanças climáticas, a gente vai ver que esses eventos extremos como teve agora devem ficar mais prováveis ou mais extremos ainda. A gente precisa urgentemente de boas formas de uso da Terra, que tem uma vulnerabilidade muito menor e que contribuem também para a mitigação climática.”

Mitigação e adaptação: dois lados da mesma moeda 

O PELD Rede Campos Sulinos desenvolve pesquisas tanto nos campos serranos da Mata Atlântica quanto no Pampa, um bioma que só ocorre no Rio Grande do Sul. Uma das principais linhas de atuação do projeto é a experimentação de manejos de pastoreio para medir e compreender formas de exercer essa atividade econômica sem causar danos à biodiversidade. 

Na percepção do professor Gerhard Overbeck, esse é um exemplo do caminho que precisamos seguir para tentar criar uma nova forma de vida frente às mudanças climáticas, após anos de exploração desmedida que já trouxeram impactos irreversíveis ao meio ambiente. 

Saiba mais sobre o assunto no primeiro episódio da segunda temporada do PeldCast. Ouça aqui. 

Matéria produzida pelo Projeto PELDCOM

Coordenação Geral: Alessandra Brandão

Coordenação Executiva: Carol Salgado

Texto: Júlia Magalhães – Graduanda

Edição: Márcia Dementshuk

Fotos: Amanda Perobelli/REUTERS

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