Escrever sobre ciência, além de informar, é convidar as pessoas a enxergar o mundo pelo prisma da ciência – que apesar de suas falhas, é a melhor maneira que a humanidade desenvolve para entender a si mesmo e ao seu entorno. Quem escreve sobre temas científicos acaba ampliando os horizontes de quem lê (além do seu próprio) e, ao mesmo tempo, estimula o exercício pleno da cidadania, preza pelo bem-estar social, o pensamento crítico e a democracia; alguns dos valores fundamentais para que a ciência seja verdadeiramente a locomotiva de qualquer sociedade próspera.
Do conhecimento científico à informação social
Nós do PELDCOM pretendemos compartilhar conteúdos checados e verazes baseados em evidências científicas produzidas por especialistas de diferentes áreas do conhecimento. Além disso, é preciso relacionar esse conhecimento com o contexto histórico das raízes brasileiras, a luta por justiça social e redução das desigualdades, a comunhão dos saberes tradicionais e formais e o empoderamento das minorias.
No PELD, uma rede de pesquisadores “mergulha” nos ecossistemas brasileiros e oferece à sociedade uma leitura científica apurada dos recursos naturais do nosso país e a biodiversidade que abrigam. Nesse caminho, os cientistas constroem mais conhecimento, enquanto o PELDCOM se integra a essa rede para ampliar esse diálogo com a sociedade! Entendemos que a ciência está distante de apresentar-se como uma verdade absoluta, mas é um processo em andamento.
Traçamos aqui diretrizes a serem consideradas na produção de conteúdo que será veiculado sob a assinatura PELDCOM. A linha editorial apresentada é um direcionamento para as produções noticiosas – os fatos narrados, as falas dos entrevistados, as análises. Diferente, portanto, do que se conhece por “Editorial”, seção que traz opiniões concernentes ao posicionamento do veículo de informação, nos referimos à postura que o PELDCOM assume, os valores e a visão comprometida com a comunicação pública da ciência na construção da notícia.
Linha editorial prioriza conteúdo gerado por pesquisas nos sítios PELD
A linha editorial do PELDCOM busca valorizar a notícia e as narrativas pela forma como elas são construídas. Ou seja, desde os critérios de seleção das pautas que serão tratadas até as fontes escolhidas, as vozes representadas, as possíveis soluções em debate. (Venâncio, 2009).
Dentre outras atribuições, o PELDCOM foi criado para amplificar o conhecimento gerado por pesquisas realizadas nos 44 sítios PELD presentes nos 6 biomas brasileiros. Estabelecer um canal de informações para a sociedade sobre as atividades científicas nos sítios.
Usa diversos recursos para a publicação e transmissão das informações:
- Redes Sociais
- Blog de Notícias
- Site
- Podcasts
- Vídeos
- Newsletter
- Mobile
- Rodas de Conversa
Nosso objetivo é, por meio desses canais, mostrar um Brasil diverso e conectar o conteúdo produzido por meio das pesquisas nos sítios PELD com um público amplo – dos já interessados por ciência até aqueles que podem descobrir o prazer de buscar a compreensão dos problemas do nosso tempo.
Ao pensarmos em linha editorial, a primeira pergunta que vem à mente é:
“O que, a quem, quais os ideais representamos?” (Venâncio, 2009)
Inserido no programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração, o PELDCOM representa os ideais do programa PELD: a responsabilidade de gerar conhecimentos sobre os ecossistemas brasileiros e a biodiversidade, de forma a promover a preservação das características naturais dos ambientes, levando em conta que as pessoas se valem desses recursos para subsistência nos mais variados níveis.
Sendo um dos projetos do PELD com a finalidade de comunicar, acrescentamos nosso empenho em buscar meios para integrar os sítios de pesquisa e dialogar com a sociedade sobre os trabalhos dos cientistas. Centenas de pesquisadores estão debruçados sobre questões que envolvem os ecossistemas dos biomas brasileiros e investigam hipóteses. O PELDCOM está comprometido com o trabalho desses pesquisadores, fontes das informações que transmitimos.
Assim, o que falam os pesquisadores dos sítios PELD, o que concerne à conservação ambiental, a visão crítica e política sobre o que está sintetizado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), as políticas públicas estabelecidas a partir das soluções apontadas cientificamente, correspondem a linha editorial do PELDCOM. Contudo, isso deve ser realizado levando em consideração nosso interlocutor. As pesquisas atuais em comunicação pública da ciência tem nos mostrado que o modelo informacional apresenta embutido um “déficit cognitivo ao colocar “o que sabe falando para outro que nada sabe”, ou seja, uma página em branco. Longe disso, buscaremos construir “diálogos”, ou seja, considerar nosso interlocutor um sujeito com sua própria visão de mundo e que entrará em contato com as informações às vezes muito distintas do seu modo de ver e, por isso mesmo, poderá formar novas construções a partir disso.
Além disso, o senso crítico do jornalista, do comunicador, deve estar aguçado. Na ansiedade por transmitir informações, até o cientista pode se precipitar e cometer algum equívoco. Pode ler a linha errada de algum dado, se confundir, vítima do cansaço… Mesmo sem dominar o assunto científico, e por isso mesmo, o jornalista deve expor todas as suas dúvidas ao cientista na entrevista.
Estabelecer diálogo com a sociedade
Para além da divulgação da ciência, uma das premissas do PELDCOM é estabelecer um entendimento sobre a relação da atividade científica com a sociedade. Afinal, o objetivo maior da ciência é proporcionar melhores condições de vida para as pessoas e, no caso do meio ambiente, para o próprio Planeta!
A ciência não é um produto acabado. Está em constante processo de elaboração. Mas as pessoas, em geral, sabem disso? Sabem que um estudo pode levar anos até chegar a algumas conclusões? E que essas conclusões serão analisadas pela comunidade acadêmica? Pode acontecer de uma conclusão estar incompleta, necessitar de mais dados, ou, até mesmo, pode estar equivocada. Por isso entendemos que é fundamental deixar esse processo bem transparente para as pessoas, de maneira a formar uma cultura científica. (Oliveira, 2012)
É importante esclarecer que nossa política editorial também se volta à formação de uma cultura organizacional para a comunicação dos sítios PELD. (Traquina, 2001; Pena, 2005). Longe de afrontar a independência do jornalista ou reprimir qualquer autonomia que um profissional das comunicações conquistou pela excelência de seu trabalho, as diretrizes explanadas aqui refletem a responsabilidade do PELDCOM pelo conteúdo comunicado.
Dessa forma, nossas fontes de informação, os definidores primários, (Hall apud Traquina, 1999) provém dos sítios PELD. São o ponto inicial para apresentar um tema, um problema, um posicionamento, uma necessidade de intervenção social, política. É de onde virá o respaldo científico para as proposituras debatidas na matéria. Essas fontes creditam valor à notícia disseminada pelo PELDCOM.
Mas também, quando se faz necessário, é importante ouvir representantes de instituições governamentais ou da sociedade civil organizada parceiras dos PELD, agências de fomento. Assim como os dados devem ser buscados e checados junto às instituições de ensino e pesquisa, institutos de pesquisa ou plataformas validadas cientificamente.
E ainda, olhar com atenção para a percepção das populações que estão sendo impactadas ou influenciadas pelas pesquisas nos sítios. O jornalista é o profissional preparado para identificar ou receber as demandas sociais e fazer uma interlocução com os cientistas envolvidos diretamente com as comunidades e as instituições públicas responsáveis pela implementação de políticas públicas.
Suscetíveis a informações de fontes falsas, os cidadãos hoje estão expostos à desinformação. O prejuízo reflete quando uma comunidade precisa tomar uma decisão coletiva e sai prejudicada por desconhecer os fatos reais. O PELDCOM pode contribuir para melhorar a vida pública dando subsídios para os cidadãos participarem ativa e democraticamente.
Por outro lado, a maior parte (ou quase toda) dos investimentos em ciência, pesquisa e desenvolvimento no Brasil provém dos cofres públicos. Inclusive o financiamento para pesquisas nos sítios PELD. É uma obrigação prestar contas à sociedade acerca do uso desses recursos públicos, bem como a visão de retornar para os cidadãos os resultados de pesquisas que trarão mais qualidade para suas vidas. É a comunicação pública em aplicação.
Convidamos você a continuar lendo, para ver algumas dicas que serão úteis no momento em que se vai produzir conteúdo sobre o PELD!
Dicas!
Todo o material a ser publicado pelo PELDCOM seguirá os princípios elencados abaixo:
1. Desenvolva uma comunicação dialógica
Pode ser estranho, a princípio, pensar um diálogo com alguém que não pode/vai interagir diretamente. No entanto, na comunicação dialógica a interação se dá ao considerar que as pessoas às quais nos dirigimos não são uma folha em branco. Elas possuem uma visão de mundo e o comunicador deve dar espaço para “essa interlocução”.
2. Domínio da técnica jornalística não é suficiente
Independente do quanto você domine as técnicas jornalísticas, sua comunicação estará sempre permeada de sua visão de mundo, ou seja, de uma teia conceitual. Portanto, é necessário entender o funcionamento da ciência para ampliar sua rede e a capacidade de comunicar a ciência.
3. Conheça bem seu público-alvo
O melhor entendimento de “para quem dirigimos a comunicação” é um ponto sensível, especialmente, na divulgação de ciência. Em geral, nossas comunicações não rompem a nossa própria “bolha”. Você sabe com quem está propondo um diálogo?
4. Apropriação social da ciência
A comunicação pública da ciência não deve ter como foco convencer sobre a superioridade desse conhecimento em detrimento de outro, mas da possibilidade da sociedade se apropriar de um corpo de conhecimento de extrema importância, que também é uma forma de ver e analisar o mundo.
5. Evite mostrar a ciência apenas pelos resultados
Sempre que possível, mostre o processo científico e as consequências desse avanço no entendimento do tema. Abordar a ciência apenas pelo resultado é apoiar a distorção do trabalho que foi realizado. Os percursos tanto da ciência quanto da comunicação não são lineares, mas ambos possuem suas técnicas e critérios em seus processos e é fundamental conhecê-los.
6. Supere o mito da neutralidade social
Ciência e cientistas não são socialmente neutros. A ciência afeta é afetada pelo contexto histórico no qual está inserida.
7. Evite preconceitos
Apesar de contar com um longo período individualista, elitista e machista – e evidentemente várias dessas reminiscências ainda persistem -, a ciência não é construída apenas por homens brancos e héteros. A ciência tem se tornado cada vez mais colaborativa e plural. Portanto, é importante considerar e estimular a diversidade como fonte, além de uma linguagem inclusiva.
8. Natureza da Ciência
Não ser um super especialista numa área do conhecimento, não impossibilita ninguém de divulgá-la, mas para além do ponto a ser explorado, é recomendável conhecer as principais características da ciência e, pelos menos, um pouco da história da ciência que pretende divulgar, com intuito de ampliar sua lente de análise e enfoque.
9. Evite distorções
A separação entre ciência e sociedade é muito alimentada pelas ideias de um cientista homem, branco, gênio, rico, estranho, que veste jaleco branco e vive trancado em um laboratório (a torre de marfim), isolado das problemáticas da sociedade. Na realidade, a ciência é a responsável por identificar os problemas da sociedade e lhe devolver soluções utilizando critérios científicos. Não há ciência genuína sem a participação da sociedade
10. Evite o marketing da Ciência
Mais importante que “impor” uma imagem positiva da ciência que pode ajudar a distorcê-la, é ajudar a disseminar a imagem mais aproximada dela. Ou seja, que a sociedade compreenda suas principais características e saiba como se apropriar e utilizar desse conhecimento.
11. Cheque os dados e as fontes antes de enviar o material
Pedimos que os materiais enviados pelos PELD com a intenção de que sejam publicados na íntegra – depois da edição pelo PELDCOM – sigam as normas básicas do bom jornalismo: criatividade na escrita, checagem dos dados, pluralidade de fontes, revisão do texto. Além das fontes primárias dos pesquisadores participantes do projeto, é interessante incluir, quando possível, outros atores como membros de comunidades locais, por exemplo. Matérias relacionadas com o cotidiano e que mostrem conexão com a vida prática e aspectos sócio-culturais serão sempre bem-vindas.
12. Bom senso no uso dos jargões e termos técnicos
É preciso ter sempre em mente que o material produzido pelos pesquisadores dos sítios PELD é de divulgação científica. Além de apontar soluções para cada um dos 44 projetos de pesquisa espalhados pelo Brasil, o objetivo do material divulgado pelo PELDCOM é dar visibilidade aos estudos e mostrar à sociedade o valor dos trabalhos científicos. Por isso, é preciso tornar os assuntos atrativos, relacioná-los com o dia-a-dia do leitor e escrever em linguagem de fácil assimilação.
13. Estimule o pensamento crítico
É importante que os temas científicos abordados privilegiem nas matérias jornalísticas publicadas pelo PELDCOM mostrem a importância de enxergar o mundo pelo prisma da ciência, em busca de evidências científicas. Por isso, as matérias precisam ser ricas em dados e claras sobre as etapas de elaboração da pesquisa. São esses elementos que podem estimular o leitor a buscar outras fontes de informação e facilitar a construção de seu repertório sobre ciência, tecnologia e sociedade.
14. O papel do editor
O PELDCOM respeitará sempre o estilo dos materiais elaborados jornalisticamente para publicação. É preciso que todos os autores se reconheçam no texto que escreveram. Esperamos ter um contato aberto e livre com os produtores de conteúdo de cada PELD.
15. Créditos
As imagens, os textos, as produções em áudio, vídeo e outros meios, devem sempre ter as referências de seus autores. O PELDCOM aplica a licença Creative Commons 4.0, o que permite o uso do conteúdo publicado pelo PELDCOM por outras pessoas, desde que usado sem alterações e citando a fonte. Ao enviar conteúdo para nós o autor estará concordando com esse compartilhamento.